Carta da Union Nationale de Cabinda a Alphonse Capita


[Nota manuscrita: R. 23/11/61]
UNIÃO NACIONAL DE CABINDA “UNC”
C.P. 7801
LÉOPOLDVILLE Léopoldville, 21 de Novembro de 1961
CIRC.1/61 Senhor Alphonse CAPITA
LÉOPOLDVILLE
Caro Compatriota,
Como todos os povos do continente africano se agitam, reclamam a sua libertação e exigem a liquidação definitiva e incondicional do colonialismo sob todos as suas formas e sob todas as suas manifestações, não vemos porque é que nós, povo de Cabinda, devemos permanecer inactivos na luta anti-colonialista e não fazemos o mundo livre ouvir a nossa voz quando nos sentimos capazes de formar a nossa unidade nacional.
Quando falamos de colonialismo, falamos naturalmente do lado do território de Cabinda que ainda é governado pela Administração colonial portuguesa. Sabemos muito bem que apenas existe uma única Cabinda. Se hoje existem duas, são as potências ­estrangeiras ocidentais que nos dividiram para melhor estabelecer a sua dominação.
Até agora, certamente não ignoram que existe em Léopoldville um movimento ­político para a libertação do Enclave de Cabinda, movimento que trabalha sob o domínio ou a influência de outros partidos políticos angolanos, quando normalmente, os cabindenses, que formam todo um povo que é parte da grande família congolesa, devem também ter o seu próprio partido político sólido para defender a sua causa. Não afastamos aqui a ideia de trabalhar em conjunto com outros partidos políticos angolanos quando se trata de formar uma frente comum de luta para a libertação dos territórios ainda sob dominação portuguesa.
Por essa razão, permitimo-nos apresentar-lhe o nosso convite para assistir ao encontro preliminar dos compatriotas cabindenses, que terá lugar sábado dia 25 do corrente, na residência nº 48, rua de Lokelenge (comuna de Ngiri-Ngiri, em casa do Senhor Jean M’BUEMBO) às 16 horas exactas.
Esse encontro não se reveste de um carácter exclusivo dos cabindenses do Enclave Português porque estamos a falar da formação de uma união nacional do povo ­cabindense sem ter em consideração os limites fronteiriços criados pelos colonialistas belgas e portugueses, divisão que facilitou o seu reinado.
Ousamos esperar que não hesite em responder favoravelmente ao presente apelo fraterno e patriótico para prestar a sua inteira colaboração ao ponto de vista acima exposto, o qual, para nós cabindenses em particular, constitui um sólido elemento de base para a nossa união e em geral, consolida a solidariedade africana actuante.
Contamos com a sua presença.
Obrigado.
Pelo Comité,
Louis Ph. WILSON [com assinatura]
Secretário