Memorando interno de Viriato da Cruz sobre estudantes de Accra

 MEMORADUM1 1) Pedir ao Vieira Lopes um relatório escrito detalhado, concreto e conciso sobre: a) Démarches e plano feitos pelo MPLA, em Portugal, para a saída dos ­estudantes (traçar itinerário geográfico); b) Enumeração das dificuldades que encontraram para que o MPLA pudesse sozinho realizar o plano; c) Como e por quem chegou o plano ao conhecimento das Missões? d) Nomes, categorias e nacionalidades das pessoas que, da parte das Missões, entraram em contacto com o MPLA em Portugal? Nomes dos militantes do MPLA que estavam em contacto permanente com os emissários das Missões? e) Discriminação das formas por que as Missões participaram da saída até Paris. f) Tipos de pressões utilizadas pela CIMADE2 para reter em suas mãos os estudantes? Até que ponto teve a CIMADE êxito nos seus objectivos? g) Nomes dos estudantes que, na altura da saída de Paris, mais colaboravam com a CIMADE. h) Que destino reserva a CIMADE aos estudantes que ficaram em França e na Suíça? i) Que influência no affaire dos estudantes teve a presença do Gilmore na Suíça? j) Lista de todos os estudantes que estão em Accra (idades, naturalidades e ramos de estudo. Que pretende cada estudante no presente?) l) Quais são os planos do Ghana? Como reagem os estudantes a esses planos? 2) Pagar passagens de barco ao Videira e ao Boal para seguirem para Pointe Noire, a fim de se integrarem nas actividades do CVAAR. (2 pessoas). Condições de trabalho no CVAAR: os trabalhadores do CVAAR são voluntários; os angolanos que trabalham no CVAAR obedecem à disciplina e às condições de mobilização militar em tempo de guerra. O CVAAR mantém materialmente os seus trabalhadores, nos limites do mínimo vital decente. O Videira e o Boal estão nomeados para, juntamente com o Santos, Boavida e Menezes, formarem o Comité que dirige e administra o CVAAR. O Santos, Boavida e Menezes estão a par dessa nomeação. 3) Pagar passagens, de barco, para Pointe Noire, para os seguintes militantes: Antonete, Ramon, Rui de Carvalho, Vieira Lopes e Carreira (5 pessoas). 4) Pagar passagens, de barco, para Conakry, para o Araújo e o Clington (2 pessoas). 5) O dinheiro para essas passagens é tirado dos três mil dollars (US$3.000.00) que o Lara leva. Feitas todas as despesas que se impuserem o restante dos três mil dollars será ­depositado em nome de Lúcio Rodrigo Barreto de LARA num bom Banco de Accra. Antes do depósito, certificar-se bem: a) Se, no futuro, nós poderemos fazer facilmente transferências de Accra para países da Europa ocidental, para países africanos e para países do continente americano. b) Se essas transferências não nos obrigam a uma série de démarches prévias e difíceis; c) Se a ordem de transferência, em qualquer altura, poderá ser dada por simples carta assinada pelo LARA. d) Se possível, comprar um livro de cheques em nome do LARA. (Informar-se sobre a maneira de preencher os cheques). Será conveniente que o LARA abra, no Banco, uma conta depósito em dollars, o que permitirá, ao que nos parece, fazer transferências em qualquer moeda estrangeira. 6) Mandar fazer fotocópias de alguns recortes de jornais americanos com entrevistas do H.[olden] e com referências ao MPLA. 7) João Gabriel: Ver, com ele, se não é mais vantajoso que ele venha a Conakry para seguir um curso militar. (No caso de ele estar de acordo, pagar passagem de barco). 8) No caso de haver despesas que serão feitas dias depois do regresso do Lara de Accra, será conveniente que essas despesas se façam com o dinheiro que temos em Paris. Para este efeito, o Lara poderá escrever mesmo de Accra ao Câmara Pires (58, rue Michel Ange – Paris 16ème), para que transfira a quantia necessária para Accra em nome do estu­dante que ficar encarregado de fazer tais despesas. (Ver senha junta).­ O Câmara Pires tem 2.000 dollars. Será conveniente que a transferência a pedir ao Câmara Pires não vá além dos mil dollars. 9) Estudar o problema do nosso bureau em Accra. Escolher 3 estudantes, como ­candidatos a ficar no nosso bureau de Accra. A escolha definitiva de um dos três será feita pelo Comité Director. Ver, no entanto, se é mais conveniente que seja o Mário a tratar do bureau na sua próxima ida a Accra. 10) Sublinhar aos nossos compatriotas estudantes as dificuldades materiais do Movimento, a necessidade de todos nós consentirmos os sacrifícios de uma economia de guerra, a necessidade da unidade de todos os patriotas. 11) Pseudónimos para telegramas e cartas: V. Lopes: Kinguri ou Puena Antonete: Ponde ou Mangue Ramon: Mitolo ou Lelesu R. de Carvalho: Handu ou Hoka Carreira: Kanela ou Kasoso Araújo: Ngoji ou Ngimba Clington: Nganda ou Tumbu. Pointe Noire: Norte Conakry: Sul 12) Endereço do Edmundo Rocha: 6, rue Paul Tirard – RABAT. CONAKRY, 29 de Agosto de 1961