Déclaration des Mouvements Africains de libération…

Cota
0018.000.048
Tipologia
Declaração
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Locais
local doc
Rep. Árabe Unida
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
3
Observações

Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»

Acesso
Público


DECLARAÇÃO DOS MOVIMENTOS AFRICANOS DE LIBERTAÇÃO
REPRESENTADOS NO CAIRO,
SOBRE ASSASSINATO DO PRIMEIRO-MINISTRO PATRICE LUMUMBA

O assassinato premeditado e a sangue-frio do Primeiro-Ministro congolês, o Sr. Patrice Lumumba, foi agora confirmado. Nós, membros dos movimentos africanos de libertação representados no Cairo, somos de opinião que o Primeiro-Ministro congolês foi brutalmente e selvaticamente morto devido à sua atitude em relação à luta ­congolesa que procura recuperar e salvaguardar a independência total e a unidade nacional do Congo.
As potências imperialistas, sob a liderança dos Estados Unidos, não podiam permanecer inactivas uma vez que o malogrado Primeiro-Ministro Lumumba não servia os seus interesses e estava decidido a lutar pelo seu povo e a mostrar o caminho a todos os que ainda estavam sob o jugo da dominação imperial-colonialista.
Todos sabemos que o Congo é rico em recursos minerais e as potências imperialistas, sob a liderança dos Estados Unidos, não podiam tolerar que estes recursos fossem utilizados para o bem-estar do povo congolês; o seu interesse exigia a usurpação e a exploração destes recursos, e a utilização do Congo como simples base militar. Ora, era-lhes impossível executar os seus desígnios enquanto o país fosse dirigido pelo Primeiro-Ministro Lumumba que gozava da maior popularidade e que se opunha às suas manobras. Foi por isso que os imperialistas, com o impulso dos Estados Unidos, o liquidaram recorrendo aos colonialistas belgas e aos seus agentes Kasavubu e Tshombé.
Acusamos os colonialistas belgas, os Estados Unidos, enquanto promotores da conspiração imperialista, os seus agentes Kasavubu e Tshombé e o secretário-geral da ONU, o Sr. Dag Hammarskjoeld, que utilizou a sua autoridade contra os interesses do povo congolês, de ter tornado possível tal crime. Se os povos africanos e todos os povos do mundo, amantes da paz e da liberdade, desejam saber porque acusamos os Estados Unidos de terem sido os instigadores deste crime abominável, diremos que, sem o apoio ilimitado dos Estados Unidos, jamais os Belgas, os seus agentes, os seus mercenários ou a ONU teriam ousado perpetrar este crime hediondo.
Convidamos todos os povos afro-asiáticos e os da América Latina, assim como todos os povos do mundo, amantes da paz e da liberdade, a apoiar a luta legítima do povo congolês visando recuperar e salvaguardar a sua liberdade e a sua independência. No entanto, antes de sugerir as medidas necessárias para esse efeito, gostaríamos de começar por sublinhar o seguinte. Se há pessoas que imaginam que o novo presidente dos Estados Unidos segue uma nova política, a essas diremos: Eis os resultados dessa nova política. Se temos de nos submeter às leis internacionais ou outras e respeitá-las, leis que foram elaboradas pelos próprios imperialistas, esses mesmos imperialistas que hoje são os primeiros a ignorá-las, pensamos então que é nosso direito adoptar as seguintes medidas, sublinhando no entanto que ao longo dos últimos meses, um grande número de crimes políticos foram cometidos contra os nacionalistas argelinos, os militantes camaroneses, tais como o Dr. Felix Roland Moumié e o Primeiro-Ministro congolês.
Assim convidamos todos os povos da Ásia, da África e da América Latina, bem como todos os povos amantes da paz no mundo, a adoptarem sem demora as seguintes medidas:
a) Organizar encontros públicos e congressos populares, mobilizar todos os meios de propaganda para denunciar as atrocidades imperialistas e para convidar os povos a apoiarem a nobre luta dos combatentes congoleses.
b) Fornecer ao governo legítimo do Congo, presidido pelo Sr. Gizenga, uma assistên­cia militar, voluntários, armas e munições.
c) Desencadear campanhas de recolha de roupa e víveres e enviar os donativos para Stanleyville.
d) Organizar manifestações diante das Missões Diplomáticas belgas, americanas, ­francesas e inglesas e diante dos centros da ONU;
e) Pedir a demissão imediata do Sr. Hammarskjoeld e a reorganização do secretariado da ONU numa base democrática.
f) Convidamos todos os governos afro-asiáticos, sul-americanos, assim como todos os governos anti-imperialistas a estabelecerem relações diplomáticas com o governo legítimo do Congo presidido pelo Sr. Gizenga.
Consideramos que essas medidas constituem o único meio susceptível de apoiar eficazmente a luta anti-imperialista dos combatentes congoleses. Sabemos que certos Esta­dos imperialistas utilizam a ameaça de uma guerra mundial na intenção de ­ater­rori­zar os povos e retirar-lhes a vontade de lutar pela sua libertação. Estamos convencidos que a determinação, a vigilância e a unidade dos povos, a par da solidariedade actuante das forças anti-imperialistas são mais poderosas do que todas as armas imperialistas, como o prova a revolução cubana.
Unamo-nos, então, e desencadeemos o nosso assalto decisivo contra o regime odiado e moribundo do neocolonialismo e do imperialismo. A Vitória é Nossa.
Cairo, 13/2/61

Assinaturas:
União das Populações dos Camarões; Kenya African National Union; Partido Nacionalista do Zanzibar; Congresso Nacional do Uganda; União Nacional do Ruanda-Urundi; Partido Nacional Democrático da Rodésia do Sul; Partido Independente Unido da Rodésia do Norte; Frente Unida da África do Sul.

Declaração dos Movimentos Africanos de Libertação representados no Caire sobre o assassinato de Patrice Lumumba (Cairo)

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