Carta de Lúcio Lara aos camaradas em Conakry

Excerto da carta aos camaradas em Conakry [dactilografada] Accra, 23 de Julho de 1960 Caros Amigos Faz amanhã exactamente um mês que vos deixei, na impressão que vos encontraria de novo dentro de um mês o mais tardar. Afinal eis-me exactamente na mesma situação em que cá cheguei, isto é, o problema que cá me trouxe continua por resolver e sem uma resposta de qualquer tipo. [...] Quanto ao Dia das colónias portuguesas, receio bem que estes tipos aqui não façam absolutamente nada. [...] Como disse no bilhete que escrevi na passada semana, fiquei ciente da estruturação provisória que deram ao MPLA. Concordo, na certeza de que me explicarão determinados pormenores que não compreendo. De resto dado o seu carácter provisório e dado que foi uma decisão tomada, não tem interesse eu pronunciar-me sobre ela. Não sei se chegaram a mandar a gravura pª o postal ao Addison que é o tal que partiu pª Leo[poldville]. [...] Esteve cá hoje de passagem o P. Lumumba mas não havia possibilidade para nós de contactar com ele. Chegou ontem e foi directamente pª casa do Nkrumah, onde conferenciou com ele, e partiu hoje de manhã para os Estados Unidos. Ao que parece o Milton Ventura [Holden Roberto] & companhia ainda cá se encontra. De facto a situação do Congo não é propícia às suas actividades. É no entanto possível que ele parta breve, ao que me informaram. O telegrama do V. [Viriato da Cruz] mostra que com efeito os correios devem ter sofrido um grande atraso com os acontecimentos lá de baixo. [...] Como deixei perceber não tenho grande esperança de me desempenhar da missão que me incumbia, pelo que é possível que dentro de uns dez dias esteja entre vós. Não tivemos sorte com a data escolhida para esta viagem, dada a ausência do Zito e os acontecimentos do Congo [Léopoldville], que vieram tirar a possibilidade de aproveitar mesmo aqui em Accra alguma coisa. Os eternos imponderáveis. Cumprimentos para todos. ass.) Lara