Accra, 12 de Julho 1960
Amigos
Decididamente a coisa está emperrada. Como vos disse na carta de ontem, digo no telegrama, os tipos aqui não sabem nada. Hoje estive lá e disse-lhe que face ao vosso telegrama tinha resolvido não regressar e esperar mais um pouco; pedi-lhe ao mesmo tempo que tentasse qualquer meio de abreviar uma resposta, o que ele diz não lhe ser possível. Pediu-me para lhe telefonar no sábado; estão a ver que o tempo se perde. Infelizmente desmarquei ontem o meu bilhete de avião, senão ainda pensava duas vezes se regressava ou não. Claro que desconheço os elementos que vos fizeram telegrafar-me para aguardar mas com boa vontade dos tipos daqui receio que a coisa ainda seja muito demorada. Peço-vos pois que me esclareçam convenientemente do que há. De qualquer maneira terei que aguentar aqui mais uma semana pois para arranjar lugares de avião para aí é quase preciso uma semana de antecedência.
Envio uma lista de correspondentes estrangeiros, attachés de presse e alguns jornais daqui. Pode ser necessário para problemas relacionados com o 3 de Agosto.
Estive uma vez com o doente do Hugo que creio deve regressar hoje ou amanhã. Mas como eles têm muito que fazer evito lá ir.
Como não podia deixar de ser já contra o paludismo. Ontem da parte da tarde bati febres, que ataquei com paludrina que me fez bem. Hoje estou fino embora tenha ligeiras dores de cabeça.
Recebi finalmente a carta do v. que foi pª o Hotel.
Ao que parece a situação do Congo agrava-se. Disseram-me que os USA iam enviar submarinos e outros reforços para proteger os belgas. Bom, fico aguardando notícias. Abraço-vos o
Carta de Lúcio Lara (Accra) aos camaradas em Conakry