Carta de José Fret e Carlos Rocha a Lúcio Lara

Cota
0013.000.036
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel comum
Remetente
José Fret e Carlos Rocha
Destinatário
Lúcio Lara
Locais
local doc
Rep. Democrática Alemã
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

No final da carta tem uma parte manuscrita por Carlos Rocha

Acesso
Público

José Fret u. Carlos Rocha
Institut fur Ausländerstudium
Leipzig c l
Dellnitzerstr. 5
Leipzig, 8 de Junho de 1960

Caríssimo Lúcio:

    Recebemos a tua carta de 24 de mês passado, e que constituiu, como não podia deixar de ser, forte motivo de alegria. As notícias são fantásticas: Mário em Conakry, o tal Movimento de Libertação dos territórios sob dominação portuguesa, Lúcio, a polícia de Bazza e frutuoso colóquio, e famigerado Gilmore, esplêndidos contactos na Conferência de Conakry e finalmente o apelo para a constituição de uma frente de luta em Angola. A propósito perguntamos: Já foi elaborada e publicada a Carta definitiva da Frain?
    Como vos dissemos na carta de 17 de Maio, escrevemos nesse mesmo dia ao José de Almeida, que ainda nos não respondeu; por isso escrevemos-lhe hoje "noch einmal" (percebes o termo?) - para sabermos em que situação se encontrava a UDEAN. Infelizmente  ainda não recebemos resposta das autoridades e como vos dissemos na carta de hoje para o mais prementes démarches junto das autoridades da DDR, porque então teremos a certeza de que tudo está carburando bem… -
    Finalmente saiu o artigo do rocha no "Leipziger Volkszeitung", mas infelizmente muito resumido por falta de espaço. Brevemente deverá ser publicado um outro artigo. O redactor político do Jornal pediu ao Rocha que ele escrevesse um artigo de carácter mais pessoal, no qual se possa viver algumas facetas concretas da luta ou por exemplo a actuação do MPLA. É o tal estilo jornalístico que não agrada muito ao Rocha, mas que ele compreende ser o preferido pelo grande público e por isso pretende escrevê-lo. Mas o grande problema é que ele precisa da vossa ajuda para o o feito. Se por exemplo tu ou o Viriato conhecerem algum pormenor interessante e que de maneira alguma não ponha em risco a nossa malta, agradeceríamos que nos contassem. Pensamos que o episódio em Luanda do Batalhão 73 (supomos que seja este o número) tenha interesse. Se o Viriato nos pudesse dizer qualquer coisa (em que ano foi, mais ou menos como foi, etc.) agradeceríamos. O massacre de Cabinda também se nos afigura interessante; mais uma vez pedimos pormenores.
    Foi criado em Leipzig o Instituto de Africanista que até 1962 poderá receber 10 estudantes e daí em diante começará a funcionar regularmente. Estabelecemos contactos com o corpo dirigente e no dia 1 de Julho faremos um colóquio c/ eles para explicarmos o problema político dos nossos países. Acontece, no entanto, que eles se interessam especialmente pelo problema cultural e, por isso, gostaríamos de lhes dar um exemplar da Antologia do Mário, mas não temos cá nada disso. Além disso, se o Mário nos puder enviar alguns tópicos s/ o problema cultural das n/ terras far-nos-ia um grande favor.
    Dentro dos vários ramos da Economia Política, escolheu o Rocha "Economia e Finanças" e por isso deverá ir para Halle, uma cidade relativamente perto de Leipzig. Ele bem queria ir para Berlim onde também se pode tirar o curso, mas tudo foi em vão. O Fret ainda não sabe para onde ser mandado. Uma nossa possível separação virá complicar muito a nossa boa coordenação.
    Lemos que o dia 3 de Agosto será o dia de Solidariedade para com as colónias portuguesas e espanholas, data que foi marcada pela Conferência de Conakry. Gostaríamos de saber se é verdade.
    Finalmente o Rocha conseguiu contactar c/ a família dele por intermédio de José Júlio, cuja actual direcção é a seguinte: José Júlio Mendonça, Hamburg 11, Postfach 5205 - Deutschland.
    Como é possível que o Mário não conheça a direcção de José de Almeida, ei-la: Luís José de Almeida-chez Madame Vanlare 30, Rue Servan, Paris XIéme - France.
    De facto é um pouco chato que o Rocha ainda não tenha escrito a malta de Frankfurt. Achas que ele te deve enviar as cartas para dar a impressão que se encontra em África, ou quê?
    É verdade que o Matias Migueis é o amigo do Rocha. Logo que tenhas a oportunidade de contactar c/ ele, transmita-lhe cumprimentos.
    Remetemos a cópia do telegrama enviado pelo Instituto. A tal Associação dos Estudantes Africanos na DDR também enviou um outro telegrama, como já dissemos, mas, apesar de estarmos fartos de pedir uma cópia, até agora ainda não nos deram, o que afinal vem confirmar a designação de sornas que nós lhe tínhamos dado. Veremos se na próxima carta já vos podemos enviar.

    Cumprimentos a todos. Saudações dos amigos certos

        A Bem da Frain
        José Fret    /     Carlos Rocha

[manuscrito por Carlos Rocha: P.S. - Os jornais noticiam o envio de tropas portuguesas (mais uma vez!) para Angola. Será o número 18.000 (como noticiou Rádio Moscovo), o verdadeiro número de soldados enviados?

        ROCHA]

Carta de José Fret e Carlos Rocha a Lúcio Lara, sobre contactos, FRAIN, a criação do Inst. Africanístico em Leipzig, e outros assuntos (Leipzig)

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