Apelo à Unidade

Cota
0013.000.025
Tipologia
Apelo
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Autor
MPLA e FRAIN
Data
Mai 1960
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
4
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Acesso
Público

Primeiro Apelo à Unidade [policopiado] APELO À UNIDADE O colonialismo – dominação estrangeira em África, está nos seus últimos dias. Desde a 2ª Conferência dos Povos Africanos, realizada em Túnis em Janeiro de 1960, até hoje, sabemos já que, dentro do ano corrente, o Congo, o Mali (Senegal e Sudão), a Nigéria, a Costa das Somálias e Madagáscar serão Estados independentes. O Togo acaba de aceder à independência. Já estão marcadas as datas em que a Serra Leoa e o Tanganika obterão a sua independência. O direito do Kénia à independência já foi reconhecido. A luta crescente contra o racismo na União Sul Africana e a condenação pelo Conselho de Segurança da ONU da política de segregação e discriminação raciais são sinais do próximo fim do domínio das forças que, na África do Sul, vêm ajudando o colonialismo em África e no mundo. Os colonialistas portugueses, opressores do povo angolano, estão cada vez mais isolados. Dentro de pouco tempo, os colonialistas portugueses terão de constatar que o apoio que eles esperam obter dos imperialistas dos países vizinhos de Angola está já ultrapassado pelo apoio que os povos desses mesmos países dão ao povo angolano em luta pela sua liberdade. No plano internacional, os colonialistas portugueses vêm perdendo rapidamente terreno. Por meio de conferências e comunicados à imprensa mundial, por meio de artigos, relatórios e diversas publicações de patriotas, o colonialismo português vem sendo sistematicamente desmascarado no mundo inteiro. À acção desses patriotas de todas as colónias portuguesas junta-se, hoje, a actividade crescente de inúmeros amantes da liberdade para todos os povos e simpatizantes da justa causa do povo de Angola. Em representação de organizações anti-colonialistas de Angola, patriotas angolanos vêm fazendo ouvir a voz do nosso povo em conferências e congressos europeus, africanos e afro-asiáticos. Em virtude da participação activa de patriotas de Angola, da Guiné dita portuguesa, de São Tomé e Moçambique, a Conferência dos Povos Africanos (Túnis, Janeiro de 1960) adoptou uma resolução especial sobre as colónias portuguesas. A 2ª Conferência de Solidariedade dos Povos Afro-asiáticos (Conakry, Abril de 1960) esteve unanimemente de acordo com a proposta do MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA (MPLA) em adoptar uma resolução especial sobre Angola. Mais de metade da humanidade já reconheceu solenemente, por intermédio dos seus representantes qualificados, o direito do povo angolano à independência e declarou apoiar a luta do nosso povo nesse sentido. O vento de transformação que sopra em África e no mundo inteiro, corre a favor da revolução libertadora do povo angolano. Com a criação há três anos do MOVIMENTO ANTI-COLONIALISTA (MAC) os Africanos vivendo fora das suas pátrias respectivas – Cabo Verde, Guiné, S. Tomé, Angola e Moçambique – deram início a uma luta unida e organizada contra o inimigo comum: o colonialismo português. A união combativa entre os diferentes partidos e movimentos patrióticos de todos os países sob dominação portuguesa possui já uma base concreta sobre a qual ela se desenvolverá. Desde Janeiro de 1960 que o MPLA e o PARTIDO AFRICANO DA INDEPENDÊNCIA da Guiné dita Portuguesa (PAI) criaram a FRENTE REVOLUCIONÁRIA AFRICANA PARA A INDEPENDÊNCIA NACIONAL das Colónias portuguesas (FRAIN). A FRAIN está aberta a todas as organizações patrióticas de todos os países africanos ainda sob o jugo colonial de Portugal. COMPATRIOTAS Constitui uma vitória exaltante o facto de que, tanto no interior de cada país sob dominação colonial portuguesa, como entre os diversos países sob essa dominação, as forças patrióticas venham desenvolvendo uma actividade persistente e progressiva para opor ao colonialismo português uma Frente revolucionária anti-colonial. O aumento da extensão e do poderio dessa frente criará as condições óptimas para a liquidação rápida do colonialismo português e para que cada país sob dominação colonial portuguesa conquiste uma independência real e incondicional. A actividade corajosa das massas que formam o MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA (MPLA), o PARTIDO DA LUTA UNIDA DOS AFRICANOS DE ANGOLA (PLUA), o MOVIMENTO DE INDEPENDÊNCIA NACIONAL DE ANGOLA (MINA) e a UNIÃO DAS POPULAÇÕES DE ANGOLA (UPA) engajaram definitivamente o povo angolano na luta pela sua própria libertação do colonialismo português. Nenhuma força, em Angola e no mundo, pode fazer recuar o nosso povo e retirar-lhe as vitórias que ele já conquistou. Com as prisões em massa, as deportações, os assassinatos, as torturas, as espectaculares demonstrações de força e o anunciado julgamento de dezenas de patriotas angolanos, o colonialismo português só se desmascara e se afunda cada vez mais e revela a força indomável do nosso povo e do vento de transformação que sopra em África. O MPLA, o PLUA, o MINA, a UPA e as restantes organizações patrióticas de Angola vêm cumprindo plenamente, até hoje, a sua missão histórica. Mas a situação, elevada e positiva, criada pela actividade dessas organizações, exige, neste momento, novas formas de organização, a fim de que a luta do povo angolano possa entrar com sucesso numa fase nova e decisiva que termine, rapidamente, pela liquidação do colonialismo português em Angola. COMPATRIOTAS! ANGOLANOS DE TODAS AS CAMADAS SOCIAIS! CATÓLICOS, PROTESTANTES, IRMÃOS DE TODAS AS CRENÇAS! HOMENS, MULHERES E JOVENS! Até hoje, a nossa luta demonstrou concretamente que a revolução libertadora não pode ser obra de um homem, mas sim do combate unido e organizado de patriotas. Os resultados da luta patriótica que se vem travando durante anos no interior de Angola fazem entrar neste momento essa luta numa nova fase. A nova fase de luta, na qual a Angola combatente está a entrar, exige, a nosso ver, que se crie urgentemente uma frente unida dos diferentes partidos, movimentos e organizações de massa em Angola. É certo que se vem verificando desde há muito tempo, no interior de Angola, uma unidade de acção, uma estreita colaboração na acção entre os diferentes partidos, movimentos e organizações de massa de Angola. Essa unidade de acção significou um grande passo em frente na luta popular de libertação. Essa unidade de acção nunca deverá ser abandonada; pelo contrário, ela deve ser reforçada e desenvolvida. A Frente unida a que nos referimos acima, será uma unidade orgânica dos partidos, movimentos e organizações de massa de Angola. A unidade de acção, que se vem verificando até hoje no interior de Angola, deverá ser permanentemente organizada. A unidade de acção deverá ser reforçada e materializada pela unidade orgânica. COMPATRIOTAS! RESPONSÁVEIS POLÍTICOS, RELIGIOSOS, SINDICAIS E DE ASSOCIAÇÕES RECREATIVAS E DE BENEFICÊNCIA DE ANGOLA! Uni estreitamente, numa base democrática, todas as forças patrióticas angolanas num só bloco contra o colonialismo português! Nós lançamos um solene apelo às diferentes formações políticas e às diferentes organizações de massa angolanas para que se unam, para lá de todas as opções e divergências ideológicas, numa única Frente para a Independência de Angola. A Frente deverá encarnar e realizar uma só vontade: a do povo angolano. A Frente deverá ter um só objectivo: a independência imediata e incondicional de Angola. A Frente deverá ter uma só direcção. A Frente deverá criar, no plano internacional, uma só representação a ela inteiramente subordinada, a fim de que o vento de transformação que sopra em África e no mundo inteiro beneficie no máximo a luta unida do nosso povo, e a fim de que as forças estranhas a Angola não possam intervir, directa ou indirectamente, no exercício efectivo da autodeterminação – a que o nosso povo tem direito e que vai conquistar – e não possam prejudicar ou trair os soberanos interesses do povo angolano. A Frente deverá estar vigilante para que, em Angola, ao colonialismo português não se substituam novos colonialismos sob novas formas. A luta patriótica no exterior deverá reflectir a unidade da luta no interior de Angola. O processo da criação da Frente deve ser uma actividade paralela à actividade normal de cada formação política angolana. Enquanto a Frente não for criada, nenhuma formação política deve cessar ou diminuir a sua actividade. Pelo contrário, a actividade de cada formação política deve ser mantida e aumentada constantemente. A manutenção e o aumento da actividade de cada formação política farão sentir cada vez mais a necessidade da Frente. A luta patriótica contra o colonialismo português não deve nunca parar nem recuar, mas sim avançar sempre. A Frente não será mais do que um novo instrumento de organização destinado a alargar o campo e a aumentar o nível de luta pela independência do povo angolano. COMPATRIOTAS! A luta diária de cada angolano e de cada formação política, por mais pequena que esta seja, é o elemento mais precioso do movimento libertador do povo angolano. Estamos certos do êxito total dos esforços que os nossos compatriotas vêm fazendo para levar a palavra-de-ordem – INDEPENDÊNCIA! – a cada camponês, aos matos, às sanzalas, a todo o interior de Angola. COMPATRIOTAS! É este o apelo que vos lançamos, nós que, como angolanos inteiramente entregues ao dever patriótico, temos vindo com outros irmãos nossos, lutando permanentemente, ao lado do nosso povo e no plano internacional, pela libertação e independência da pátria angolana. GLÓRIA A TODOS OS NOSSOS IRMÃOS JÁ TOMBADOS NA LUTA PELA LIBERTAÇÃO DE ANGOLA! VIVA A FRENTE PARA A INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA! VIVA A UNIDADE COMBATIVA DE TODAS AS ORGANIZAÇÕES ANGOLANAS PARA A INDEPENDÊNCIA IMEDIATA E INCONDICIONAL DE ANGOLA! ABAIXO O COLONIALISMO PORTUGUÊS! a) ABEL DJASSI [Amílcar Cabral ] HUGO MENEZES LÚCIO LARA MÁRIO DE ANDRADE MATIAS MIGUÉIS VIRIATO CRUZ (Militantes do MPLA e membros da FRAIN) África, Maio de 1960

Primeiro «Apelo à Unidade», do MPLA e da FRAIN, com os nomes de Abel Djassi, Hugo de Menezes, Lúcio Lara, Mário de Andrade, Matias Miguéis, Viriato da Cruz (África, Maio 1960)

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