Sumário das conversas tidas em Brazzaville entre Lúcio Lara e Manuel Pacavira

Cota
0012.000.047
Tipologia
Relatório
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel comum
Autor
Lúcio Lara
Data
Abril 1960
Idioma
Conservação
Mau
Imagens
3
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Acesso
Público

Sumário das conversas tidas em Brazzaville entre Lúcio Lara e Manuel Pedro Pacavira [dactilografado por Lúcio Lara] SUMÁRIO DAS CONVERSAS DE BRAZZAVILLE - Abril 1960 Sobre a ORGANIZAÇÃO Informou o enviado ter conhecido antes das prisões três organizações que lutavam pela independência de Angola: 1 – Movimento de Independência Nacional de Angola (MINA) 2 – Movimento de Libertação Nacional (MLN) 3 – Movimento de Libertação de Angola (MLA) O 1º movimento que teria tido por líder José Bernardo Domingos continua hoje sob a direcção de Agostinho Neto. O 2º movimento, cujo líder teria sido o eng. Calazans Duarte ter-se-ia fundido com o MLA de que faziam parte Ilídio Machado, Gabriel Leitão, Liceu V. Dias e Higino Aires. A actividade actual do movimento que teria nascido dessa fusão parece ser nula. Estes três movimentos constituiriam a União das Populações de Angola. O MLN seria constituído na sua maioria por europeus conhecendo-se nele a presença de 4 africanos que depois aderiram ao MINA. Segundo a opinião dos africanos de Luanda os dois movimentos que se fundiram teriam uma orientação comunista. O MINA separou-se desse movimento. O MINA data pelo menos de 1957, pois o relator lembra-se de que nessa altura teriam mandado fazer um cofre especial para guardar documentos. Ao MINA pertenciam PASCOAL, BENJE, CARVALHO, S.G. DOMINGOS, JOSÉ LISBOA, JOAQUIM FIGUEIREDO, LOURENÇO CONTREIRAS, BELARMINO VANDUNEM, DIOGO VENTURA, ARMANDO DA CONCEIÇÃO JR. (que teria sido o presidente de uma associação patriótica em Léopoldville e que foi preso durante uma reunião nessa mesma cidade e entregue às autoridades portuguesas), NOÉ DA SILVA SAÚDE, etc. Ao MLA, além dos quatro elementos supracitados, pertenciam FRANCO DE SOUSA, CARLOS VANDUNEM, FRANCISCO AFRICANO, BELARMINO DE SOUSA, LUÍS RAFAEL, AMADEU AMORIM (apanharam-lhe uma máquina duplicadora), MÁRIO A. CAMPOS, etc. Ao MLN pertenciam como já se disse os europeus presos assim como alguns africanos, entre os quais, PACAVIRA, SILAS e MANUEL DA COSTA. O MINA parece ser o único que continua a desenvolver grande actividade nomeadamente publicando panfletos. Tem em vista criar «postos» no interior. No Uíje já estaria funcionando um desses postos sob a direcção de ADRIANO SEBASTIÃO, elemento sobre o qual o Miguéis põe grandes reservas, pois teria em tempos ameaçado de denunciar uma série de actividades a propósito de uma questão pessoal que teria tido com elementos revolucionários. O Abel saberia da história. É casado com uma senhora de nome Hermengarda. A direcção do MINA seria constituída por AGOSTINHO NETO (presidente). JOAQUIM BERNARDO (de Malange, professor). J. DOMINGOS, CÂNDIDO DA COSTA, COELHO DA CRUZ, HERBERT INGLÊS (chauffeur). A Comissão de propaganda seria formada por SILAS, PACA, SEMIÃO ADÃO MANUEL, MADALENO e RUDOLFO (irmão de Silas). Uma comissão de Resistência seria formada por DAVID QUEIROZ (irmão do Silas) e ARISTIDES VANDUNEM. Ao que diriam estes elementos, têm em Luanda cerca de mil indivíduos prontos (?) a entrar na luta... Em Fevereiro teria vindo uma Delegação de Malange estabelecer contacto com Silas. (CRISTIANO dirigiria essa delegação). Outras informações No Kessua (Malange) consta estar a aparecer um movimento só de protestantes. O padre Andrade está em contacto com o Neto. O cónego Manuel das Neves também está em contacto com os patriotas. O Padre Nascimento é bom mas não dá nada, seg. o cónego Manuel. Ilídio, Higino, Liceu, Capicua, Costa, Lisboa estão na prisão dos Muceques. Podem ser visitados por amigos... Nobre, Noé, Benge, Gaspar e Mingas estão na prisão do Cemitério e também têm visitas. Os da Casa de Reclusão não podem ser visitados. A Direcção do MINA trabalha de acordo com os presos. Sabe-se que há 4 soldados angolanos que fugiram de Macau pª a China. Cândido Costa é um pouco medroso... Há muitas buscas. Depois das 8 horas não se pode circular. Pedem desculpa e revistam as pessoas. 1º TUMULTO DE CATETE – Um tal Alfredo (mestiço do Caminho-de-Ferro) provocou um negro. Os brancos intervieram contra o negro e outros negros retorquiram. Imediatamente vieram forças do Exército (do paiol) e depois a polícia. Morreu um rapaz. Houve alguns feridos e prisões... 2º TUMULTO DE CATETE – Um negro foi com três amigos comprar vinho e desconfiou que estava envenenado. Discutiu com o vendedor. Este chamou o administrador que por sua vez telefonou pª o paiol (entre Catete e Luanda). Veio porém a polícia de Luanda que se atacou aos que já estavam juntos. O soba UALA interferiu com a sua gente contra a polícia. Um polícia (AIRES) chegou a ser atingido por um chucho (instrumento de pesca). O soba foi preso e desterrado. Os comboios e os carros de Catete a Luanda eram controlados. KASAVUBU pretende logo após a independência reunir num meeting os Angolanos residentes no Kongo a quem incitará a apoiar as organizações patrióticas. Os documentos são em geral redigidos pelo Silas (os panfletos). PONTOS EM QUE INSISTI PARA SEREM TRANSMITIDOS E ESTUDADOS ORGANIZAÇÃO: Alargamento; Criação de «Comités locais de acção»; criação de secções especiais entregues a gente responsável; problema da clandestinidade e funcionários; fundos; denominação; problema da UPA e Gilmore [Holden Roberto]; a organização no exterior (dificuldades e vitórias); Credenciais (carta credencial pª todos os efeitos inclusive ONU) LUTA IMEDIATA E FUTURA: Desde já uma secção de informação e documentação sobre questões militares; preparação imediata de gente pª sair (estudantes e outros); preparação imediata in loco de agitadores e estudo e aplicação imediata de possibilidades de sabotagem e resistência passiva; boicote económico; estudo de códigos a empregar; encontro dentro de dois meses e normalização das ligações; sugeriu-se a criação de um corpo de estafetas «profissionais» a quem ficaria confiada a missão de comunicações internas e externas; problema das primeiras armas; criação de pontos de apoio junto das fronteiras e outros locais para facilitar saída e entrada de gente; procurar desde já agitação nos bairros, aldeias e pontos afastados de cidades; problema dos sindicatos e uniões de estudantes; bolsas de estudo – resposta através do Brasil; os problemas da propaganda (mostraram necessitar de copiógrafos); a mensagem dos presos à Comissão Internacional dos Direitos do Homem. Nossa actuação: Actividade; sacrifícios; a «ajuda» exterior; problema da ONU; apoio das organizações patrióticas do interior. A FRAIN; os nossos planos de futuro e seu condicionamento.

Sumário das conversas tidas em Brazzaville entre Lúcio Lara e Manuel Pacavira (Brazzaville, Abril 1960)

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