Carta de Deolinda Rodrigues a «Querida amiga» [Ruth Lara]

23 de Abril

    Querida Amiga,
    Espero que tenhas feito uma viagem feliz com o teu filho até Conakry e encontrado bem teu marido e toda a nossa família aí.
    Antes de mais nada, não sei como agradecer-te pelo muito que tens feito pela nossa Terra, cooperando com o teu marido.    
    E também quero agradecer-te pela tua carta boa e os dois trabalhos. Impressionou-me ver o teu nome assinado de maneira tão idêntica à da Ruth Neto.
    Sem dúvida, será maravilhoso conhecer-te pessoalmente, qualquer dia…
    Tem sido muito difícil para ti e o miúdo essa necessidade de viajar aqui e acolá? Há planos para demorares aí, agora? As famílias dos outros conterrâneos também já estão aí?
    Sim, tenho apreciado muito as cartas do teu marido, principalmente agora que não posso escrever para casa. Imagino, muitas vezes, com que felicidade Angola receberá esses seus filhos que se ausentaram dela há anos e têm lutado tão dedicadamente por ela. Lá em casa, conversámos frequentemente sobre vós e vos imaginávamos à nossa maneira. Quando voltardes será a realização dum grande desejo, minha Amiga.
    Para atingir um ideal tão nobre e justo, todos os esforços não são nada.
    Quando é o teu aniversário, o do teu filho e marido?
    Não te esqueças de que estou sempre ao teu dispor e será um privilégio ser-te útil nalguma coisa, minha Amiga.    
    Por favor, diz ao Lúcio para mandar a tradução de “Unruhen und Terror”... se puder, o mais cedo possível. Não temos conhecimento bastante da língua e muito menos tempo para marcar passo com o artigo. Mas se não puder, não faz mal, faremos o melhor possível. Obrigada.
    Gostaria tanto de te escrever um pouco mais (pois a tua carta foi a única feminina durante estes três últimos meses), mas deu o sinal para ir para a cama. Boa noite, Ruth.
    Saudações a essa equipe formidável e preciosa. Felicidades em tudo para todos.
    Por favor, escreve quando puderes.    
    Com amor,
    «Deolinda»