Intervention de V. da Cruz, au nom de la delegation de l'Angola

Cota
0012.000.009
Tipologia
Discurso
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Autor
Viriato da Cruz
Data
Mar 1960 / Abr 1960
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
3
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Acesso
Público

Intervenção de Viriato da Cruz na 2ª Conferência de Solidariedade dos Povos Afro-Asiáticos Conakry, 11-15 de Abril de 1960 [policopiado – original em francês] INTERVENÇÃO DE V. DA CRUZ, EM NOME DA DELEGAÇÃO DE ANGOLA Senhor Presidente, Caros Camaradas delegados, A liberdade conquista-se pela luta. Esta foi sempre a convicção profunda dos patriotas angolanos. Uma parte importante da opinião mundial está convencida que em Angola o povo trava uma luta encarniçada (embora mal conhecida nos seus detalhes) contra o colonialismo português. O Secretariado Permanente de Solidariedade dos Povos Afro-Asiáticos declara, no seu Relatório, que sem sombra de dúvidas rebentaram insurreições em Angola, mas estas revoltas geraram na verdade massacres e um total segredo rodeou as atrocidades que aí foram perpetradas. Sim; é preciso afirmá-lo. Em várias regiões de Angola (nomeadamente em Luanda e em Catete) houve insurreições que o exército português reprimiu selvaticamente num banho de sangue. Desde há um certo tempo para cá que o colonialismo português utiliza uma arma ignóbil e inédita na repressão colonial moderna: o envenenamento das populações africanas. Nas localidades de Angola onde a oposição contra a dominação é muito intensa, agentes ou aliados do colonialismo português vendem às populações africanas alimentos envenenados. Parece-nos que isto basta para ficarem com uma ideia do carácter bárbaro do colonialismo português. Sabem sem dúvida que em todas as colónias portuguesas reina a ditadura fascista. Na prática, isto significa calcar e violar os direitos e as liberdades fundamentais do homem. Não há partidos políticos legais! Não há sindicatos para os trabalhadores africanos! Não existe liberdade de informação e de imprensa! Isto significa também que a luta pelo progresso e a liberdade do nosso povo não pode ser senão uma luta rigorosamente clandestina. Tivemos mesmo que criar escolas clandestinas apenas para ensinar a ler aos analfabetos. A isto o retrógrado colonialismo português responde com uma política obscurantista de perseguição e de encerramento de centenas destas escolas, por toda Angola. Patriotas angolanos são constantemente presos, arrastados para Tribunais militares e acusados de «crime de alta traição» que leva a penas que vão até 25 anos de prisão. Muitos de entre eles são torturados ou assassinados, quando não são deportados para locais de onde nunca mais regressam. O que acabámos de dizer não o fazemos para nos queixarmos. Lamentar-se não serve de nada. O nosso povo dá-se muito bem conta que nada nem ninguém deverá nem poderá substitui-lo na luta de vanguarda que está travando. Mas, Caros Camaradas, a maioria do nosso povo está convencida que a natureza do colonialismo português é de tal ordem que não [se] pode admitir apenas a via pacífica que gostaríamos de seguir para obter a nossa independência. Seria condenarmo-nos a uma dominação sem esperança de libertação. O ódio do nosso povo ao colonialismo português pode rebentar dum momento para o outro. A resposta directa do nosso povo à dominação colonial poderá então transformar-se de esporádica em sistemática. Seria a guerra; uma guerra imposta pela bárbara tirania de Portugal. Diz-se – e nós acreditamos – que a liberdade dos povos dum continente e a dos povos do mundo é indivisível. Estamos perante a Conferência de Solidariedade dos Povos de Ásia e de África. Poderia perguntar-se: O que é que os povos africanos e asiáticos poderão fazer, por seu lado, de um modo concreto e eficaz, a favor do justo combate do nosso povo – um combate conduzido em condições sem igual em toda a África? Esperamos, confiantes, – Que os povos de Ásia e de África aumentem a sua vigilância perante a acção do colonialismo português; – Que os povos Afro-asiáticos dêem uma ajuda concreta e incondicional à luta do povo de Angola contra o colonialismo português; – Que os povos Afro-asiáticos levem os seus respectivos governos a tomarem certas medidas diplomáticas contra Portugal, medidas essas que poderiam ir até à ruptura de relações diplomáticas e comerciais; – Que Portugal, em virtude da sua política colonial, seja declarado inimigo de todo o Mundo afro-asiático; – Que esta Conferência, de acordo com o Relatório do Secretariado Permanente, preste uma atenção especial à questão do colonialismo português e desencadeie uma campanha especial a seu respeito, a fim de estes tiranos serem desalojados dos territórios que usurparam e que os povos destes países recuperem os seus legítimos direitos. LUTAR para a liberdade do povo – LUTAR de modo a merecer a solidariedade dos povos irmãos – Colocar a solidariedade ao serviço do desenvolvimento da LUTA popular, – eis algumas das palavras de ordem da organização que representamos aqui: o Movimento Popular de Libertação de Angola. VIVA A SOLIDARIEDADE AFRO-ASIÁTICA ACTUANTE! VIVA A LIBERDADE E A PAZ! ABAIXO O COLONIALISMO E O IMPERIALISMO!

II Conferência de solidariedade dos povos afro-asiáticos (1 a 15 de Abril 1960 - Conakry) - Intervenção de Viriato da Cruz, em nome da delegação de Angola

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