Carta de Lúcio Lara a Viriato da Cruz e Hugo Menezes

Excerto da carta a Viriato da Cruz e Hugo Menezes [dactilografada] Casablanca, 30/3/60 Meus caros Esta é apenas pª enviar o anexo junto, que contém uns extractos que fiz do Boletim Afro-Asiático de Dezembro-Janeiro que por acaso li na Redacção do Avant-Garde. Pela primeira vez, pois, vejo a ordem do dia da Conferência. É provável que o V. [Viriato da Cruz] tenha já tido a possibilidade de o saber, uma vez que o Comité Preparatório da Conferência já se deve ter deslocado pª Conakry. Como poderão ler, eles prevêem apenas um ou dois delegados de cada País. Não sei se já responderam às cartas que lhes escrevi, pedindo que dessem a resposta pª o V. Estou aborrecidíssimo porque há mais de dez dias que tento em vão estabelecer o meu programa de partida, sem conseguir falar com as pessoas de quem ela depende. [...] Quanto à nota pª o Avant-Garde a coisa vai ser rectificada numa espécie de artigo. Penso que se o Abel [Amílcar Cabral] ainda não mandou imprimir a Resolução sobre as colónias portuguesas, não valerá a pena fazê-lo já, pois aproveitava-se fazer depois da Conf. de Conakry uma folha em que se imprimissem as resoluções das duas conferências, essa carta aberta ao Primeiro Ministro português e um apanhado da acção exterior em favor das Colónias portuguesas. Realiza-se de 7 a 9 de Abril a Conferência dos Estados Independentes Africanos em Accra, com o objectivo principal de tratar de um plano «activo» contra as explosões atómicas. Deve-se-lhes enviar um telegrama, a meu ver, para que nas suas resoluções tratem do problema das colónias portuguesas. Em minha opinião esses países deviam eles próprios estudar os meios eficazes de apoiar a n/ luta e pª isso é preciso que nós lho lembremos. Creio que o V. e o HM [Hugo de Menezes] podiam tratar desta questão. Estranho falta de notícias do Abel. Certo de que está a desenvolver os seus maiores esforços, parece-me porém que eles poderiam ser melhor coordenados se fossem do n/ conhecimento. Quanto à minha ida, o melhor é o V. esperar pelo telegrama que por certo mandarei antes de aí chegar. Recebi hoje carta da «brasileira»1 que mandou 150 ang. [angolares] pª as despesas. Ainda não recebeu os documentos que lhe enviei de Túnis. Pode fazer seguir documentos à terra, embora com dificuldade. Um abraço pª ambos.