Carta de Lúcio Lara a Viriato da Cruz e Amílcar Cabral

Cota
0011.000.097
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Remetente
Lúcio Lara
Destinatário
Amílcar Cabral e Viriato da Cruz
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
1
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Carta a Viriato da Cruz e Amílcar Cabral [dactilografada] Casablanca, 27 de Março 1960 Meus caros De posse das cartas do V. [Viriato da Cruz] de 17, 18 e 23 do corrente. As duas primeiras tinham-me dado bastante satisfação por encontrar o V. de novo animado e na «forma antiga». A última porém mostra-me que ainda não está tudo bem, no que respeita ao seu ânimo. Tenho a certeza que uma vez todos juntos, apesar das dificuldades que sem dúvida encontraremos seja do «exterior», seja no «interior», conseguiremos estabelecer a nossa luta em bases sólidas que não mais permitam momentos como os que temos atravessado no ponto de vista de «vazio». A decisão dos amigos de solucionarem já o problema Abel [Amílcar Cabral] e mulher e M. [Mário de Andrade] é afinal já melhor do que esperávamos. Das conversações muito breves (não foi possível conversar calmamente) com o D.S. [Diallo Seydou] fiquei também com a impressão que não haveria dificuldade em encontrar um trabalho qualquer pª mim e mulher; em princípio até viu-se a possibilidade de trabalhar como économe na Universidade, a partir de junho. Não faço ideia o que é isso, mas dado que é preciso agarrarmo-nos a coisas concretas, não descuro essa possibilidade se outra não surgir. A verdade é que temos de subsistir, e por enquanto não vejo outra forma de regularmos a n/ situação. A conversa com o responsável daqui não teve lugar. Faltou a dois rendez-vous e depois teve de partir. Não sei se ainda haverá possibilidade de o ver antes de me ir embora, dado que ele conta demorar-se bastante tempo. Em face disso não foi possível tratar de nada, e vamos a ver se os que cá estão serão capazes de me resolver o problema da deslocação, o que já não seria mau. Eles prometeram-me ontem que iam fazer o possível nesse sentido. Quando eu falei numa solução europeia, referia-me apenas à R. [Ruth Lara] e m/ filho. Eu estaria sempre convosco. Pusemos porém essa solução de parte, pelo menos por ora, dado que achamos ser de tentar ela ficar o mais perto de mim possível. Tentaremos por isso arranjar na Gu. [Guiné] uma solução mais ou menos estável pª ela. Se tal não for possível, veremos outras soluções a partir de dados concretos. Espero que em face da actual situação nada obste a que nos encontremos em Abril. Concordo com a reunião para breve (maio, em princípio) da conferência afro-asiática das col. lusas. Em Timor houve no ano passado sublevações, que a imprensa clandestina lusa noticiou. Veremos se é possível contactá-los através da deleg. da Indonésia à Conf. Afro-Asiat. Igualmente concordo com a apresentação à Comissão dos Direitos do Homem dos problemas dos originários das colónias lusas que vivem fora dos seus países. Essa Comissão esteve reunida há dias; temos de nos informar quando se voltará a reunir. Enviei alguns documentos pª o Miguéis, já pª P. Noire. Não seria possível arranjares aí possibilidade de ires mesmo tu ter uma entrevista com ele? Bem sei que há a questão do pass, mas esse assunto não poderá ser desde já envisagé pelos amigos daí? Certamente terás de te deslocar (estou a falar ao V., claro) mais vezes e o problema do pass é importante. Espero, como disse, poder estar em Con.[akry] a 9/4. Telegrafarei no entanto a confirmar. Não vale a pena discutir por este meio mais problemas. Também escrevi ao Rocha e Frét, justamente por causa do mesmo problema que V. lhes escreveu. Bem, meus caros. Espero que o Abel em breve diga qualquer coisa. Convinha não sair de Londres sem ter assegurado contacto com Lx. Abraça-vos o L. [Acrescentado à mão, na margem: Até agora sem tradutor. Contacto do Aquino sem interesse.]

Carta de Lúcio Lara (Casablanca) a Amílcar Cabral e Viriato da Cruz

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