Carta de Viriato da Cruz a Lúcio Lara e Amílcar Cabral

Cota
0011.000.092
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel comum
Remetente
Viriato da Cruz
Destinatário
Lúcio Lara e Amílcar Cabral
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
1
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Carta de Viriato da Cruz
[dactilografada]

Conakry, 23 de Março de 1960
[Acrescentado à mão por L. Lara: R 26/3]
Caros Amigos,1

Respondo às cartas de 18 e 20, do L. [Lúcio Lara], recebidas hoje.
1 – De acordo com o programa. Não lhe tiro nem lhe ponho uma vírgula, como se diz. Está completo.
2 – Não acredito que, como seria para desejar, se possa realizar inteiramente esse programa. Não há tempo. A dispersão das gentes torna o trabalho pouco rendoso e pouco seguro. Sim, porque temos de nos convencer que a extensão e a agudeza dos n/ problemas políticos não podem convencer a ninguém que eles possam ser formulados e resolvidos (e bem!) sem um debruçamento e um trabalho colectivos.
3 – Outro facto: para a Conf. de Túnis, o L., mulher e eu partimos de condições melhores do que para esta Conf.. Todos nós estávamos rodeados dos n/ instrumentos de trabalho. Eu não tenho aqui estatísticas nem outros elementos necessários. Que quereis que se faça? Efectivamente, estou totalmente chateado c/ as condições em que me encontro actualmente. Piorei em todos os sentidos! Estou farto de ser a bola de bilhar que deve rodar para gáudio da assistência. (A assistência não são vocês, hein).
4 – Todos estamos de acordo que há coisas que se não podem expor nem tratar por cartas. Cada um de nós já tem um bom número dessas tais «coisas». Mas sucede que essas «coisas» constituem, talvez, elementos essenciais do n/ trabalho futuro. Vede pois, o círculo vicioso a que estamos presos!
5 – Espero que o L. tenha exposto ao Seydou [Diallo S.] o problema do visa. Em todo o caso vou hoje tratar disso. Estes tipos dificilmente me concedem um pouco de atenção. Acho que aqui deve andar jogo de bastidores. Frequentemente se esquecem que eu é que sou o representante da FRAIN aqui; e saltam por cima de mim.
6 – Uma União de Trabalhadores tem de se basear em sindicatos ao menos de empresa e ao menos clandestinos. É admissível que se proclame, por exemplo, um partido político sem primeiro ter obtido o apoio das massas; mas é inadmissível criarem-se sindicatos e uniões sindicais sem que os trabalhadores tenham efectivamente criado qualquer coisa nas empresas em que trabalham. Escrevi ao Miguéis para vir até cá, somente por alguns dias. Insisti com força nessa necessidade com a qual ele está aliás de acordo. Aguardemos.
7 – Agradeço à Ruth, Paulinho e L. pelos parabéns que me enviaram. Efectivamente começo a sentir a velhice... Deixai o Paulinho gozar fartamente a sua infância! Ele deve estar um grande mestre na gaita.
Que Allah, Maomé e todos os santos marabús queiram que não voltemos a gastar mais dinheiro com selos para o correio! Inch'Allah!
Saúde para todos.
ass.) V.
[Acrescentado à mão, na margem: P.S. Endereço do Miguéis: B. Postale 558 Pointe Noire République du Congo]

Carta de Viriato da Cruz (Conakry) a Lúcio Lara e Amílcar Cabral

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