Carta de Lúcio Lara a Viriato da Cruz e Amílcar Cabral

Cota
0011.000.083
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Remetente
Lúcio Lara
Destinatário
Amílcar Cabral e Viriato da Cruz
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Excerto da carta a Viriato da Cruz e Amílcar Cabral [dactilografada] Casa[blanca], 18/3/1960 Meus caros A. [Amílcar Cabral] e V. [Viriato da Cruz] Recebi hoje as vossas cartas (2 do V. de 8/3 e 14/3 (!) e uma do Abel de 14/3) bem como dois pacotes (um com os Monde – merci – e outro com a documentação em ciclostilo). Os correios c/ a Guiné funcionam mal. Hurrah pelo resultado da entrevista do Abel, digo conf. de presse. Já se passaram cópias da notícia dada pela Agência Guin. que vou mandar directamente pª Lx. e Ang. e pª Rádio Brazzaville, a quem vou também mandar um dos poucos envelopes que ainda tenho com os doc. de Túnis. Sobre a actuação do Comité Director creio que de facto devemos aperfeiçoar o n/ método de trabalho (um simples exemplo de uma coisa que seria bronca se eu tivesse feito sem vos dizer nada, é que tenho também uma tradução em fr. da CARTA (sem as emendas) que como vos disse tencionava fazer ciclostilar aqui e distribuir, por não saber que havia emendas). Evidentemente que todos os passos que dermos em frente sem que vejamos que pode haver sobreposição, são de dar, e nesse aspecto muitos passos se têm dado em Londres... Avante pois. A vinda cá do Aquino vai-me proporcionar uns contactos (já me proporcionou um) que podem vir a ser muito úteis. Creio não valer a pena relatar estas questões por esta via. Uma coisa quero porém dizer (que não vos disse na última carta) é que garantem-me as viagens por barco até Gu. [Guiné Conakry]. A propósito, urge que nos mandem, a todos os que pretendem ir pª Gu. autorização de entrada e visto, sem o qual temos de depositar uma caução «violenta» na Companhia... Vê pois isso V. Pensando no assunto, achamos que uma vez que as passagens são facilitadas, não há motivo pª que não nos desloquemos até lá e tentemos in loco ver qualquer coisa. De facto porque hão de nos negar trabalho? Vou apalpar aqui terreno quanto a uma possível ajuda inicial à instalação do que poderá ser um Bureau. Pergunta se as casas aí são caras? E não há falta de habitação? Aliás amanhã reúne-se aqui a Sindical Panafricana (comité preparatório) pelo que vou tentar saber pormenores pelo homem das barbas. O Ma. [Mário de Andrade] escreveu-me. [...] Penso que V. deve pôr ao Miguéis o problema da União dos trabalhadores independentemente do que o Abel vá tentando em Dakar. Conviria talvez também ter um projecto de estat[utos] pª breve. União dos est[udantes] – Como vai ser feita a discussão? Pª já não me parece conveniente a sede em Leipzig, pelo menos nos estat., bem como me pareceu não ser de pôr à cabeça um Bureau provisório sem uma consulta prévia mínima, nomeadamente com os escolhidos. Discordo em absoluto de nova alteração de nome. Não sei o que terá levado o Abel a insistir na questão. Mas receio que uma nova mudança neste momento pelo menos, sem que um motivo verdadeiramente significativo o origine, provoque um descrédito muito perigoso para a organização. A menos que os nossos camaradas sejam unânimes em rejeitar o nome... Com todas as dificuldades que ele nos criará, e não serão muitas se o conseguirmos justificar, vale mais aguentarmo-lo que passarmos por uma organização improvisada, sem qualquer base sólida que não seja um «aventurismo» político. De acordo c/ o telegrama ao Delgado. Quem o manda? Eu desconheço o endereço. De acordo c/ envio de documentos a pc [Partido Comunista Português]. A quem os dirigir? Pedi duas moradas em Paris... De acordo que Manifesto saia nome do MAC com uma nota. De acordo em que evitemos tratar muita coisa nas cartas. Sobre o programa Abel quanto à instalação na Gu. penso que se tiver possibilidade mínima de partir a 4/91, partirei. Peço pois ao V. que me responda concretamente ao que perguntei na última carta sobre asilo etc. Óptimo que julgamento tenha sido adiado. Os tipos aqui ainda não mandaram telegrama. Dizem que ainda não reuniram... Não lhes disse que a coisa foi adiada. Espero mais uns dias a ver se mandam. Creio estarmos todos de acordo com uma conferência entre organizações políticas e sindicais das CP. [colónias portuguesas], sendo necessário começar a dar os primeiros passos. Conservo no arquivo um pequeno panfleto do Indian Council e creio ter-vos dito que o Moumié me falara deles como sendo muito boa gente. Aquino informou-me hoje que o Vice-Presid. não é de muita confiança, e que a Smt. Aruna Asaf Ali é pessoa muito interessante. De qualquer modo creio ser de estreitar laços. Bom o contacto cubano. Creio não valer a pena dares pormenores. Creio V. que deves ter paciência e não falar em demissão. Isso não conduz a nada e pode estragar o pouco mas concreto que está feito. Os camaradas com que cimentaste os primeiros passos da libertação do n/ País, aguardam de ti (que conhecem mais de perto) e de todos nós uma actuação séria, sem dúvida, mas que eles sabem não poder estar isenta de defeitos. Será que nós não temos corrigido muitos defeitos? Eu penso que sim, que os temos eliminado na medida do possível. A n/ situação actual é muito chata: grandes distâncias, más ligações, mas o contacto c/ o Miguéis não te diz nada? Afinal todos estamos impacientes, porque esta situação é muito chata para um Comité Director que trabalha desligado, e que por esta razão tem que ser cauteloso. Confiemos que em breve a coisa tome outro aspecto. Vai o projecto de programa. Eu vou começar a trabalhar na coisa de Angola e no resto. Espero ter tudo pronto dentro de uma semana. Vou apesar de tudo ver se aqui há possibilidade de imprimir alguma brochura ou boletim. Nada quanto a tradutores. O Aquino lembra a Violeta do Goan League. O Abel que diga algo. Entretanto iam-se imprimindo ou compondo as coisas em francês, enquanto uma cópia seguia para a tradução em inglês. Temos que ser rápidos. Como sempre já estamos atrasados. Meus caros, são 4 horas. Hoje, com o Aquino, passei o dia a ouvi-lo e depois em casa do tal tipo que ele me apresentou. Até breve. Um bom abraço. V. tens alguma foto do Congresso? Convinha fazer uma fotogravura, para o caso de sair o Boletim. ass.) Lara [Acrescentado à mão, na margem: 19/3 Por carta agora recebida da m/ Mãe, a malta em Luanda sabe que nós estivemos em Túnis, pois um Dr. teria dito à Mira Godinho (sogra do Meireles) que sabia que eu estava lá.]

Carta de Lúcio Lara (Casablanca) a Amílcar Cabral e Viriato da Cruz

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