Carta de Hugo Menezes a «Caros Amigos»

Cota
0011.000.079
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel comum
Remetente
Hugo de Menezes
Destinatário
Lúcio Lara e Amílcar Cabral
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Acesso
Público

Carta de Hugo de Menezes
[dactilografada]

Conakry, 17/3/60
Caros amigos1

Penso ser desnecessário reafirmar a minha inteira adesão ao FRAIN. Esta atitude exige, no caso de ser por vós tomada em consideração, que eu funcione como uma peça – ainda que minúscula – que deve entrar em funções quando o andamento da máquina o exigir. Em consequência, e não só pelas leis da «mecânica» a que estaria sujeito, como também pelo prazer pessoal que nisto ponho, penso ser desnecessário acentuar que estou inteiramente ao dispor do L. [Lúcio Lara] e da família, na hipótese da sua vinda para cá. A minha mulher e eu fazemos esta proposta absolutamente descontraídos, e esperamos que seja aceite do mesmo modo. [Acrescentado à mão: Venham, pois, quando quiserem, imediatamente se vos agradar.]
Quanto à missão de que fui encarregado junto do PDG: após longas caminhadas e démarches em número incontável, obtive ante-ontem, do Secretário Político deste Partido, a resposta verbal às questões que, oralmente, e depois por escrito, dentro da linha por vós definida em Túnis, lhe apresentei logo após a minha chegada a Conakry. Ficou, pois, decidido:
1 – Que por ora, e imediatamente, virão o Abel [Amílcar Cabral], a mulher e o Ma [Mário de Andrade], e imediatamente.
2 – Que as passagens serão por conta do Estado.
3 – Que o Abel e o Ma virão como «técnicos».
Convém, por outro lado, que o Abel se ponha em contacto directo com [o] embaixador, em Paris, mais precisamente, deverá deslocar-se a Paris.
O nosso pedido, se bem que razoavelmente satisfeito, não o foi como desejávamos, não só pelo carácter «técnico» com que se apresenta a vinda de uns, como também pela exclusão, pelo menos temporária – tal como foi dito – de outros.
Já devem ter sido enviados para Paris os meios necessários para a realização prática daquelas decisões.
Quanto ao Movimento de cá: não tenho procurado contactos desde a minha chegada. Preferi afastar-me temporariamente, aguardando que a situação se esclareça um pouco. Creio que ela tende para tal, e que a vinda do Abel concorrerá muito para isso.
Estou inteiramente de acordo com o L., quanto ao critério que deva presidir à adopção de alguns (todos) princípios fundamentais do nosso Movimento. Deveremos escrevê-los à luz mais brilhante do século, e não à luz das queimadas ou das candeias de azeite. As reservas de alguns, as obstinações de outros, as dificuldades transitórias que a adopção dos mesmos nos possa acarretar, certas adaptações cómodas ou questões chamadas «tácticas», seja qual for a intenção que as dite, seja qual for o benefício imediato que aparentemente destas poderá advir, só devem ser encaradas quando de acordo com os mesmos princípios-base. Porque adaptações e mimetismos... deixemo-los aos camaleões.
O V. [Viriato da Cruz] está óptimo – assim o creio – e dando-se inteiramente ao trabalho. As suas reservas de ânimo, quase esgotadas há alguns dias, pelo silêncio longo do Abel e do La, foram rapidamente refeitas.
Por hoje, nada mais que cumprimentos da minha mulher para vós e para as vossas, e um abraço do
ass.) HM

Carta de Hugo Menezes (Conakry) a Lúcio Lara e Amílcar Cabral

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