Carta de Lúcio Lara a Marcelino dos Santos e José Carlos Horta

Cota
0011.000.072
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Remetente
Lúcio Lara
Destinatário
Marcelino dos Santos e José Carlos Horta
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Acesso
Público

Excerto da carta a Marcelino dos Santos e José Carlos Horta [dactilografada] Casa[blanca], 13 de Março de 1960 Meus caros Horta e Marcel Perdoem-me o relativamente longo silêncio. Como devem calcular ele foi motivado por afazeres mais urgentes. Agradeço em particular ao H. [José Carlos Horta] a sua preciosa colaboração à qual a nossa luta tanto deve. Ela é tanto mais notável quanto representa uma posição pessoal que, ao que eu saiba, não está ainda «oficialmente» integrada em nenhuma organização política. Espero que não te chateie esta apreciação simples da tua colaboração, mas penso que seria injusto não a fazer. O vosso trabalho está óptimo. Com efeito chegou atrasado, mas não foi o último, pois ainda não chegou nada sobre a Guiné e C. Verde. Escrevi por isso ao amigo do Cairo a pedir-lhe uma prorrogação do prazo. Mesmo que já não seja possível publicar a coisa a tempo para a Conf. Afro-Asiática, publica-se para distribuição ulterior a organizações diversas e a malta nossa. Só em face de todos os trabalhos escritos será possível fazer uma coordenação para evitar repetições. Quando a brochura for publicada, faremos uma distribuição por todos os que vejam possibilidade de a difundir. De acordo em que substituas, H., o que aí tens para enviar pela brochura, no caso de ela sair nas datas que prevês. Não convém porém deixar atrasar muito, para que o material não perca actualidade. A imprensa portuguesa silenciou em absoluto a Conf., o que não é de estranhar. Não há dúvida porém que a actividade política portuguesa está a aumentar no que respeita à internacionalização dos problemas coloniais, é índice desse facto o vaivém contínuo do ministro dos N. Estrangeiros, Marcello Mathias, que esteve em Espanha, Londres e ultimamente em França com o intuito declarado de acertar as agulhas da sua política colonial com a dos partenaires. Não sei como isso será possível, mas é de esperar uma breve alteração da política colonial portuguesa. Quanto ao n/ próximo futuro ainda não sabemos nada ao certo. [...] Quanto ao Tennyson Makiwane tivemos um certo contacto com ele, mas ele não nos chegou a referir os seus conhecimentos em Moç. Ele partiu aliás pª a África do Sul, se não estou em erro. Se puderem vocês porem-se em contacto c/ ele através da sua morada em Londres, não deixem de o fazer. É urgente encontrar ligações com Moç. Quando eu estava em Port. tinha notícias que algo se estava a preparar em Moç. Com a dificuldade porém de comunicações nunca mais foi possível adiantar nada. [...] Ainda não contactei pessoalmente com o Aquino [A. de Bragança]. Não sei que bicho lhe mordeu. Ele marcou-me uma vez um encontro, mas eu não recebi essa comunicação a tempo, pois estive três dias ausente no Sul do país. Voltei a escrever-lhe, mas não vieram mais notícias. Aguardemos. Caro Marcel: não sei se a passagem aí do Mário te terá esclarecido alguns dos problemas que levantaste na tua carta de 25/2. São problemas difíceis de explicar por carta. As tuas considerações de ordem técnica ou política são igualmente válidas. Quanto às primeiras elas foram apresentadas já à malta e serão discutidas logo que possível. O mesmo quanto às segundas, sobre as quais desde já me permito pessoalmente dizer-te que não tens razão em admitir que foram postos em causa princípios e métodos democráticos. Há situações em que havendo uma necessidade urgente de tomar decisões importantes, não podemos estar a preocupar-nos em reunir a opinião de todos os camaradas, o que como sabes levaria muitos meses. A CARTA, sendo em princípio que vigora, não é um documento definitivo em absoluto e é susceptível de emendas reconhecidamente necessárias. Os problemas que levantaste foram bastante discutidos e é possível que o voltem a ser. Peço-te portanto que faças uma análise detalhada de todos os pontos com que não estás de acordo, para que sobre eles te sejam dadas as devidas explicações ou, para que de acordo com eles [se] modifique o que for possível na CARTA. As considerações que já fizeste (e que dizias serem resultado de uma análise por alto), já foram transmitidas pª Londres e Conakry, mas interessa que faças tudo de uma vez. Que diz o Guido [Guilherme Espírito Santo]? Que faz ele? Tens tido notícias da Andrée? Escrevi-lhe há dias um postal pª a posta restante. Não sei se ela o recebeu. Quem está da malta africana em Paris? Caro Horta – já recebi três jornais. Ao que parece a malta corre o risco de ser julgada em Tribunal Militar. Temos andado a ver se conseguimos que organismos políticos e sindicais telegrafem ao Governador Geral de Angola a protestar contra o julgamento e a solidarizar-se com a malta presa. Até agora creio já terem telegrafado a UGTAN, a U.P.C. e aqui a U.M.T. Será possível que aí algum sindicato ou Associação de estudantes faça o mesmo? É de notar que há dois estudantes no processo: HÉLDER FERREIRA NETO e NOÉ DA SILVA SAÚDE, sem contar com a DEOLINDA RODRIGUES que por estar a estudar no Brasil será julgada à revelia. Quanto aos jornais extraviados que chegarão atrasados, paciência. [...] Em breve escreverei a relatar as últimas decisões. Como vai o trabalho dos estatutos? Convinha depois fazer chegar a coisa a Lx. se houver essa possibilidade. Era de tentar a oficialização o mais depressa possível, para que em breve a n/ malta possa usufruir das regalias que a UIE costuma dar no que respeita a Bolsas. Os dois moços que foram pª a Alemanha Or. [A. Oriental],1 estão satisfeitos. [...] Cumprimentos da Ruth. Um bom abraço pª ambos do v/ ass.) Lara

Carta de Lúcio Lara (Casablanca) a Marcelino dos Santos e José Carlos Horta

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