Carta de Lúcio Lara a Mário de Andrade

Cota
0011.000.069
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Remetente
Lúcio Lara
Destinatário
Mário de Andrade
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Acesso
Público

Casablanca, 12/3/60

Caro Mário

Tens razão em te queixar da m/ falta de notícias. Acontece que tu estavas pª partir eminentemente, segundo notícias tuas e da Bélgica, pelo que aguardei saber onde ao certo te encontravas.
    Recebi de facto as coisas que me mandaste. O facto de ainda não ter nada sobre a Guiné e C. Verde, e ainda o facto de as tuas coisas cá terem chegado a 28 e as da Bélgica a 3 de Março, obrigaram-me a escrever para o tipo do Comité a dizer que não podíamos apresentar tudo já e a pedir uma prorrogação do prazo. Até porque é preciso ter tudo na mão para fazer uma coordenação dos artigos, para não haver falta de unidade.
    Óptimo que mandes as fotos. Já sei que a malta na Bélg. vai publicar uma brochura com os documentos de Tunis (nossos) e com as fotos. Que fizeste dos autos? Queria ler isso. Como ficou finalmente a questão da Associação dos Juristas?
    Boa, a nota da «Gauche». Cá deve sair hoje qualquer coisa baseada nela. Se ainda apanhar a tempo mando-te.
    Li ontem os artigos da S. de Luzignan que mandei vir directam/. Não estão nada maus. Tivesse o Monde publicado há mais tempo coisas daquele género…
    O m/ primo Ernesto está em Paris e foi a t/ casa (pensando que só lá morava a Sarah) mas não encontrou ninguém. Tencionava voltar e não sei se a Sarah terá desconfiado dele, por não o conhecer. Escrevi hoje um cartão à Sarah pª não se assustar com o moço.
    Quanto à Guiné, eis em resumo o que há:

1- Está estabelecido pelo sec.-geral do «coiso» que o bureau pode ser aberto.
2- O bureau será mantido pela FRAIN, bem assim como a subsistência dos delegados da FRAIN lá residentes.
3- Eles ajudam no respeitante à impressão de material, despesas de correio e utilização da Rádio.
4- Quem quiser ir pode ir já nas condições da alínea 2) (a expensas da FRAIN…)
5- Tu podes ir já e tens possibilidade de ser ajudado logo após a t/ chegada

Eis o que a teu respeito diz a carta do V., de onde tirei também o resumo supra:
"O caso do Mário com a agravante da doença, foi apoiado pelo ministro que estava presente (I. Touré). Aceitam que o M. venha quando ele quiser. Acham que o M., dado o seu trabalho longo na P.A., poderá trabalhar aqui no jornalismo e na Rádio. Avisámos no entanto que o M. não tinha meios pª a viagem. O meu interlocutor não disse que o seu país não podia subsidiar a viagem do M. Deu a impressão de que haveriam mesmo de ver a possibilidade de lhe subsidiar a viagem. Porém ele nada disse de concreto e de definitivo a respeito desse subsídio de viagem".

Quanto ao resto, eles não estão dispostos a dar emprego a malta que seja portadora de uma técnica "floue". Querem com isso dizer que só querem técnicos que sirvam o País. Uma gaita, na medida em que não se propõem a dar-nos um auxílio inicial. Terás mais notícias a este respeito. Apresso-me a dar-te estas no teu interesse.

Quanto à massa, a família mandou para cá parte dela, reservando outra para as despesas de correio. A parte que me mandaram foram 150M. Embora estejamos sem dinheiro, como também mais 100 marcos não adiantam nem atrasam o nosso caso, diz-me se tens necessidade absoluta de 100 marcos e eu mando-tos na volta do Correio.
Podia-tos mandar já, mas como tu não dás a entender que precisas deles em absoluto, permito-me esperar pela tua confirmação, que espero faças com sinceridade.

    Escrevi aos nossos amigos de conakry e de londres. ainda não vejo claro quanto às m/perspectivas imediatas, dadas as reservas da gente de conakry. No entanto estou satisfeito por estar resolvida uma parte dos nossos problemas (bureau e colocação para alguns de nós). Claro que não está resolvida, mas está bem encaminhada.

    Saudades da Ruth. Estás em contacto com os Bouvier? Eles ainda não sabem que estou aqui e que o V. esteve em Tunis e está em conakry. Quanto a mim podes dizer que estou cá. É mesmo possível que lhes escreva em breve. Quanto ao V. não convém adiantar nada, para não criar confusões.
Um apertado abraço.

    Lara

Carta de Lúcio Lara (Casablanca) a Mário de Andrade.

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