11/03/60
Amigos,
Safa, que susto que essa gigantesca tragédia nos pregou a todos. Geralmente eu trabalho com o rádio ligado, muito baixo e de manhã está sempre sintonizado para Bruxelas ou Paris. No dia do terramoto, estava a escrever à máquina quando me apercebi que R. Bruxelas tinha interrompido o programa de música para dar uma notícia importante: durante 3 minutos com pormenores da catástrofe, mas como não tinha apanhado o princípio da notícia só percebi que era em Marrocos e os tipos a voltarem a dizer o nome da cidade vítima. Passei uma hora inteira a saltar de estação para estação a tentar saber qual era a cidade marroquina mal posso supor o cagaço que houve em linha(?).
Nestes momentos, o altruísmo e o egoísmo andam de mãos dadas. A gente fica horrorizada com a tragédia e alegra-se que os nossos amigos estejam sãos e salvos.
A Anita foi ontem a Lisboa por uns dias para estudar "in loco" uma proposta tentadora para o nosso regresso a Lisboa. Ainda não sei se se concretiza. É apenas um plano. Depois falarei.
Segue junto carta chegada hoje.
Beijos ao Paulo. Abraços para os dois do amigo de sempre.
António Santos
Carta de António Santos, de Londres, a «Amigos» [Lúcio e Ruth Lara].