Carta de Deolinda Rodrigues a Lúcio Lara

Carta de Deolinda Rodrigues
[manuscrita]
Instituto Metodista
[à margem: R 18/1/60] 12/1/59 [mas é de 60]

Prezado Lúcio

Obrigada pela tua boa carta.
Já que o permites (obrigada), prefiro tratar-te familiarmente e exijo que me pagues com a mesma moeda, está bem?
Esta vai ser uma «carta-relâmpago» porque estou ocupadíssima. Cerca de 70 pastores e delegados metodistas duma área do Brasil estão alojados aqui para esta semana toda e, como sou a única aluna que passa integralmente as férias no Instituto, tenho de ser um pauzinho para toda a obra, por enquanto. Abusei da saúde e, principalmente a vista está a reclamar demais. Por isso vou ser breve, desta vez.
Sim, quero e devo aderir ao MAC.
Em Luanda, o «julgamento» deve ter começado na primeira semana deste mês. Tenho mais de 30 fotos relativas ao nosso povo (pescadores, contratados, sanzalas, festas, kitanda, etc.) e uns aspectos característicos recortados de livros. Estou a mandar-te estas duas para veres se servem ou é necessário que as mande aumentar e então não tenham nenhuma inscrição. De qualquer modo estou ao dispor e muito obrigada pela oportunidade de servir.
Matias Miguéis (C.P. 17, Loudima, Rep. du Congo) fez-me estas perguntas relativas ao «julgamento» dos nossos em Luanda: «E como se abrirá a via de libertação para essa gente? Ficaremos de braços cruzados?»
Então, por favor, Lúcio, escreve para ele o mais cedo possível e... tratai de USÁ-lo, sim?
A morada do Larry Holder é certa. Saiu dos States em princípios de Dezembro e disse que me escreveria de Ghana, mas até agora nada. Estou um pouco aflita, embora prometesse não sair do barco em Angola, deve regressar em fins deste. Tem esposa, filhos e idade razoável e não é tão impetuoso e descuidado como o Jorge Barnett que desde Junho está preso em Luanda também.
Um obrigado especial pelos selos de Túnis.
A tua esposa e filho estão seguros, Lúcio? E tu, o Rocha e Mário?
Ao dispor e cordialmente,
deolinda