Carta de Lúcio Lara a «Caro Doutor»

Carta à secção do MAC de Lisboa [dactilografada] [Apontamento manuscrito: Cópia] 4/1/1960 Caro Doutor Espero que tudo vos corra à medida dos vossos desejos, e que o Novo Ano vos traga imensas felicidades... Tem esta por fim pedir-lhe um grande favor. Aqui há uns tempos conheci um senhor que diz ser seu amigo. Ele é ou diz ser engenheiro e estava interessado num negócio de óleo de palma. Ele deixou-me o cartão que perdi e não consigo recordar-me do seu nome. Tenho a vaga impressão que se chama Abel qualquer coisa, mas não me lembro do apelido. Ele tinha dito que viria cá por esta época de modo que eu tratei de falar com uma sociedade importadora muito importante, com a qual consegui uma reunião para este mês. Tinha muito interesse que este senhor cá estivesse, pois seria uma ocasião única de assentarmos a sério no desenvolvimento do negócio. Acontece que a única referência que tenho dele é a de ser seu amigo (ao que ele diz). Foi mesmo nessa base que nos conhecemos, pois falando de amigos de Portugal ele disse-me que tinha estado em tempos numa festa em sua casa. O que em suma lhe queria pedir é que se por estes dados conseguisse saber de quem se trata, dissesse com toda a urgência a esse amigo que eu tenho a certeza que o negócio se realizará, e que tanto eu como o meu sócio lhe pedimos encarecidamente que venha se possível na 3ª semana deste mês. A sociedade a que me refiro promete guardar o sigilo indispensável a um tipo de negócios como este, que pode envolver muitos capitais. Seria para mim um grande favor se conseguisse comunicar-lhe isto, com toda a urgência. A menos que não saiba de quem se trata o que seria uma grande maçada. Espero que sua esposa esteja bem. Apresente-lhe por favor os meus melhores cumprimentos. Gostava de ter notícias dos amigos que aí deixei. Consta por cá que tem havido prisões em Angola, de comunistas que querem a independência. Até veio há dias uma notícia que estavam a ser julgados. Isso é verdade? Espanta-me muito. Gostava de saber concretamente o que se passa e quando são os julgamentos. Aqui nunca se sabe nada de Portugal e das colónias. Se lhe for possível dizer qualquer coisa sobre esses acontecimentos muito agradeceria. Perdoe-me o tempo que lhe tomei. Muito grato lhe ficarei se puder dar uma ajuda na questão a que me refiro. Seria um óptimo negócio. O meu sócio acha mesmo que a presença desse senhor é indispensável para a realização do negócio. Antecipadamente grato, creia-me amigo atº e obrº. ass.) Paulo Palma [Lúcio Lara]