Carta de Lúcio Lara a Mário de Andrade

Cota
0008.000.025
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Remetente
Lúcio Lara
Destinatário
Mário Pinto de Andrade
Locais
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
1
Acesso
Público

Nápoles, 13 de Dezembro de 1954

    Meu caro Mário

    De posse da tua carta de 9, que recebi no próprio dia do embarque em Frankfurt. Não sei se já te acusei a recepção das credenciais. Se não o fiz, foi por um imperdoável esquecimento, atenuado contudo pela imensidão de questões a tratar nos últimos dias. Esse assunto ficou bem resolvido, pois tudo se fez a tempo de ainda ir a Berlin e vir. O envelope que agora segue esteve pronto já há uns dias, simplesmente aguardava ainda uma carta tua, para responder ao que fosse necessário. Recebi também a lista completa dos presos de Angola. Ciente das démarches que estás fazendo quanto à Associação dos juristas. Comunicarei o que dizes pª o V.. Quanto à falta de dinheiro, é um problema difícil. Creio que em breve virá alguém de lá e talvez se possa estudar a questão. Esse alguém, o eng., até me pede para não partir tão cedo, para nos encontrarmos na Bélgica, simplesmente a carta chegou-me às mãos duas horas antes da partida, em que não havia a mínima possibilidade de adiar. telegrafo hoje ou amanhã a dizer que não posso passar o Natal com eles (o convite era feito nesses termos) e que escreverei. Vou dizer que de qualquer maneira será conveniente a saída deles, pois dadas as modificações que parece terem feito na estrutura do mac, é necessário discutir bem uma série de pontos. E vocês aí comunicariam por correio expresso com o V. a agenda a discutir e as conclusões a que chegassem, informando-me ao mesmo tempo do que se passasse. O ideal seria que o tipo que viesse pudesse contactar comigo e com o V., mas isso creio não ser fácil, nem economicamente, nem por questões de segurança, dado que o carimbo da DDR ou de Tunísia, são sempre aborrecidos de mostrar aos pides. Mas há uma coisa: os passaportes portugueses não precisam de visa pª a Tunísia e talvez o carimbo fosse fácil de evitar, desde que se levasse uma carta do embaixador da Tunísia, ou mesmo eu lá conseguisse que alguém fosse esperar o mensageiro. Não percebo de resto que o eng. arrisque tanto… e não se ponha a milhas, definitivamente.
    A morada da moça é DEOLINDA RODRIGUES DE ALMEIDA; Instituto Metodista
    C.P. 12681
    Santo Amaro, S. P. Brasil
Os papéis que seguem aqui junto são o Projecto de Manifesto, com as respectivas correcções enviadas posteriormente, e uma apreciação feita por nós em fr. Não existe por enquanto o projecto de Regulamento, dado que esperamos saber o que se fez em 1ª nesse sentido.
    Diz ao Marcel que recebi e agradeço a carta dele, bem como o «bilhete de recomendação» que espero utilizar.

    Obrigado pelos teus votos. De facto bem precisamos de resolver a sério esta situação instável em que lutamos, e que não traz metade dos progressos que poderia trazer. Pelas notícias da sede, porém, sente-se que a malta está cada vez mais interessada, e que a luta tem dado frutos. Os jornais de Lisboa noticiam que o Secretário Geral das N. U. vai lá agora falar com o Presidente do Conselho. Mesmo que não seja expressamente por causa do telegrama, decerto o assunto será focado.
Convinha-nos estar a par do que se passa no julgamento. Vou enviar cópia do telegrama para a secção portuguesa da Rádio Brazzaville que parece estar dando notícias interessantes, segundo informações de Lisboa. Vamos também mandar para a Conferência dos povos Afro-asiát.. Pensamos ser de mandar agora um memorandum à N. U. que explique melhor o telegrama, enviando também cópias para a Conf. Afro-asiát. e outras organizações.
Neste momento não me ocorre mais nada. Um grande abraço para a Sarah e saudades para vós da Ruth. Abraça-te o
    
            Lara

 

 

Carta de Lúcio Lara (Nápoles) a Mário de Andrade

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