Carta de Lúcio Lara a Viriato da Cruz

Cota
0008.000.020
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Remetente
Lúcio Lara
Destinatário
Viriato da Cruz
local doc
Rep. Federal da Alemanha
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
1
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Acesso
Público

Carta a Viriato da Cruz [dactilografada] Ffm. [Frankfurt/Main], 10 de Dezembro de 1959 Meu caro Cruz São 4 da manhã e acabei agora de passar à máquina as correcções que nós propomos. Estudei o Projecto em conjunto com a Ruth e com o Rocha pois sempre é melhor podermos ouvir as opiniões de uns e outros, para melhor se fazer uma análise. Lamento não ter tempo de recopiar o projecto com as emendas por nós propostas, pois seria mais fácil, mesmo para nós, avaliarmos da justeza dessas emendas. Se pudermos, faremos isso em Túnis. Vou enviar agora, isto é, logo, quando puser esta no correio, o projecto que tu enviaste a mais, para Paris, e junto-lhe além das tuas correcções estas 4 folhas por nós aqui elaboradas sobre o teu trabalho. Ontem escrevi-te enviando as coisas para assinares. Vamos a ver se a tua resposta ainda me apanha cá. Peço-te que me respondas concretamente sobre a questão de o MAC entrar em contacto oficial com a Associação de que é Presidente o Pothekine, sobre se achas que devemos escrever para a Conferência Pan-Africana acerca da próxima reunião em Túnis e da nossa possível participação. Quanto ao primeiro caso, o Mário quando escreveu ao Pot.[hekine] já fazia prever que nós (o MAC) entraríamos em contacto com eles. Se não se fez foi por não haver uma certeza quanto às nossas residências futuras. Vieram umas brochuras, as tais há algum tempo anunciadas pelo Barden. Só mandou dois exemplares de cada. Tenciono traduzir aquilo que achar que vale a pena, para fazer chegar a Lª e outros pontos. Vou-te mandar essas coisas. Depois de leres podes mandar para Paris, eu guardarei no arquivo os outros exemplares para quando forem precisos. Volto hoje a escrever ao Barden a acusar a recepção das coisas dizendo que aguarde meu novo endereço se tiver que mandar já alguma coisa e pedindo esclarecimentos acerca de como eles encaram a questão do Rocha, a quem tinham posto como única condição ter dinheiro para a viagem, mas sem concretizarem se lhe davam a Bolsa ou não. Acho melhor enviar-te por este processo 400 marcos. Essa massa tentarás aguentá-la para a viagem até à Tunísia, que deve orçar em cerca de 300 marcos em transportes (caminhos de ferro e barco). É preferível assim, pois depois pode haver dificuldades no envio de massa de lá. Eu pensava guardá-la, para o que desse e viesse. Mas penso ser melhor assim. A restante massa da malta utilizo-a na nossa viagem. Fico com uma reserva que o pai da R. [Ruth Lara]1 me «emprestou». Quanto a comprar cá utensílios, a única coisa que achamos fazer-nos bastante falta foi uma máquina de escrever, que me chegou hoje, pois pedi com teclado AZERTY. A que temos é insuficiente, porquanto a Ruth está a trabalhar nela, eu não posso dar seguimento à correspondência e outras coisas urgentes. É o caso do meu pequeno trabalho da ONU a que só falta pôr as notas e que espera que eu as ponha há um mês. A Mme B. [Irmgard Bouvier] quer que eu lho dê para publicar, mas primeiro vou-to enviar, para que dês a tua opinião sobre o que houver a acrescentar. Dei hoje a t/ carta à Mme, aliás ontem. Ficou algo surpreendida mas como não me demorei (fui à Bibl[ioteca] levá-la) ela não me disse nada. Ainda sobre a tua última carta, posso afirmar-te que quando sugeri as emendas ao telegrama não pensei na «vibração» da malta de Lª, mas no facto de ele poder obter maior audiência no seio da ONU. Quando te disse que a malta poderia vibrar com ele é porque sei que todos esperam uma verdadeira INTERNACIONALIZAÇÃO dos nossos problemas e que esse facto, galvanizando os nossos conterrâneos, reforçará o MAC e contribuirá para um maior alargamento da nossa luta. Sinceramente, tenho a impressão que escreveste aquela carta sob forte tensão nervosa. Compreendo que as notícias que chegam aos poucos dos nossos irmãos, ao lado dos quais deste os passos mais decisivos na tua dedicação pela nossa causa, te tenham chocado profundamente. Um dia falaremos destas coisas todas. As cartas pouco dizem. Esta será a última carta que te escreverei daqui. Que esse facto seja o prelúdio de uma fase decisiva do nosso combate. [Acrescentado à mão, na margem: 1 enorme abraço. Saudades da Ruth. O Paulchen continua a falar em ti. Lúcio.] [Prossegue manuscrita] Quinta, às 11 da manhã Meu caro A tua carta chegou há pouco mais de uma hora, 10 h da manhã. O correio expresso é sem dúvida uma grande coisa, é pena ser tão caro. Estou pois de posse das credenciais. De acordo quanto às considerações que fazes sobre o Conselho de Solidariedade do Cairo. Evidentemente que o facto de por vezes seres «duro» nas tuas apreciações é levado pelo teu enorme desejo de contribuir de um modo mais decisivo e eficaz para o bem dos nossos povos. Óptimo que prepares os relatórios ou memórias para a Onu, Cairo, Londres, etc. A questão do Poth. [Pothekine] é o seguinte – Ele escreveu, como deves estar recordado, ao Mário, falando-lhe na criação da «Assoc. soviet. pour l'amitié avec les peuples d'Afrique» – 14, R. Kalinine, Moscou. Nessa carta (circular) de 10/6/59 pedia ao Mário que os pusesse se possível em contacto com homens de cultura, organizações sindicais culturais, de massa, de juventude e outras da terra (do M. [Movimento]). O Má. respondeu em 17/IX/59 por teu intermédio, pedindo «pessoalmente indicações acerca do modo como eles encaravam a amizade». Combinou-se que nós seguiríamos (MAC) com uma carta começando um intercâmbio. Isso não foi feito por não termos nenhum adress bom e por o teu estar em vias de desaparecer nessa altura, como te deves lembrar. Convinha que se lhe escrevesse a estabelecer contacto. Envio-te uma folha carimbada e 2 cópias, pª o caso de o poderes fazer. A nossa referência nesse documento será Ref. E/SA/31. Poderás pô-la nesse ofício que te decidas a escrever, e em que me parece ser de pôr o caso concreto dos estudantes que querem emigrar pª aquelas bandas. Se houver necessidade ainda escreverei mais qualquer coisa. Um abraço muito grande t/ L.

Carta de Lúcio Lara (Frankfurt/Main) a Viriato da Cruz

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