Carta de Mário de Andrade a Lúcio Lara

Cota
0008.000.018
Tipologia
Correspondência
Impressão
Manuscrito
Suporte
Papel comum
Remetente
Mário Pinto de Andrade
Destinatário
Lúcio Lara
Locais
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Acesso
Público

Carta de Mário de Andrade [manuscrita] Paris, le 9.XII.59 Meu Caro Lúcio, Espero ansiosamente que tenhas recebido o envelope «exprès». Não tenho condições materiais para apresentar melhor um texto de tal importância. Ainda não me acusaste recepção duma lista completa dos presos políticos em Angola, que te enviei na semana passada. [À margem: Oui: recebi a tua carta de 8.] Passando aos pontos focados na tua última carta, devo dizer-te para começar que o nosso Embaixador da G. [Guiné] é um tipo difícil de ser apanhado em Paris. Tenho recebido vários adiamentos dos rendez-vous marcados, por motivos de viagem urgente da sua parte. Ainda há dias, foi obrigado a deslocar-se. Creio que já voltou. Não deixarei, pois, de lhe comunicar as tuas últimas indicações. O E.S. [Guilherme Espírito Santo] partiu no último sábado para Genève. Conta trabalhar por lá. Não temos notícias do H.M. [Hugo de Menezes]. A mulher anunciou apenas o casamento. Manda-me de novo a morada da nossa amiga «brasileira».1 No que respeita ao processo intentado contra a malta, contactei com o Secretário Geral da Associação dos Juristas que se dispõe a alertar o bureau desse organismo. Simplesmente, necessita duma carta oficial do advogado que tomará a defesa dos presos (trata-se, em princípio do Palma Carlos, assistido por alguns colegas de Luanda), comunicando os termos da acusação. Alguém levou daqui uma carta para Lxª em que essa questão foi suficientemente elucidada. Sei que o portador chegou bem mas aguardamos resposta. Levanta-se um problema material: o financiamento da viagem do jurista até Luanda. O Secret. Geral propõe que seja um advogado brasileiro que seja designado a assistir ao processo. De qualquer modo, já forneci os dados para uma notícia que deve ser publicada na revista da Associação. Aguardamos o projecto de manifesto e da regulamentação interna. Enfim, faço votos por que a tua missão seja bem sucedida. Neste momento, uma parte dos destinos do M. [Movimento] pesa sobre os teus ombros. Eu sei que estarás à altura da tarefa. Adieu, Camarade. Bonne chance! Amitiés à Ruth. Je t'embrasse Mário [Acrescentado na margem: P.S. Os livros seguirão por mão própria, a menos que tenhas necessidade urgente dessas coisas. Vai uma carta pª Carlos Alberto [Carlos Rocha]] Da carta do Pothekine, interessa reter isto: (...) «En ce qui concerne la question de l'aide aux jeunes cadres africains à poursuivre des études en U.S., je suis malheureusement obligé de retarder ma réponse à cette question parce qu'à l'heure actuelle notre Association n'a pas encore la possibilité d'inviter les jeunes cadres africains à faire leurs études en U.S.»2 O resto refere-se às possibilidades que a Associação fornece para publicação de livros de interesse africano. *** Da carta do Eduardo Mondlane3 (U.S.A.): (...) «O Sr. Rui Ventura ou Haldane Roberto (ou Mr. Gilmore) [Holden Roberto] está aqui na cidade de New York junto da delegação da Guiné livre. Ainda não me foi possível falar com ele porque ele tem medo de que os portugueses possam descobri-lo. Não posso dizer por certo o que ele está a fazer, excepto conjecturas que está a fazer pressão junto de algumas delegações amigas da África.»

Carta de Mário de Andrade (Paris) a Lúcio Lara

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