Carta de Viriato da Cruz a Lúcio Lara

Cota
0008.000.017
Tipologia
Correspondência
Impressão
Manuscrito
Suporte
Papel comum
Remetente
Viriato da Cruz
Destinatário
Lúcio Lara
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Acesso
Público

Carta de Viriato da Cruz
[manuscrita]

B. [Berlim], 9-12-59
Meu Caro Amigo,

Respondo e agradeço à tua carta de 6 do corrente a qual acompanhava a lista dos amigos presos.
1 – Estou de acordo contigo: Poderemos e deveremos enviar um memorandum ao Secretário-Geral expondo mais detalhadamente os factos últimos da política portuguesa nas colónias.
2 – Acho que devemos enviar cópia desse telegrama ao Conselho de Solidariedade, no Cairo, pedindo apoio à nossa solicitação ao Secretário-Geral.
O memorandum que se enviar ao Secretário-Geral deverá, igualmente, ser remetido ao Conselho do Cairo. Ao mesmo tempo que enviarmos cópias desses documentos ao Cairo, deveremos insistir, em termos correctos mas enérgicos na necessidade de o referido Conselho passar a apoiar por factos a luta anticolonial nas colónias portuguesas. O mecanismo de trabalho nesses Conselhos de Solidariedade obedece, fundamentalmente, a interesses que interpreto assim: A Inglaterra, a França e a Bélgica fazem parte do núcleo mais activo das potências imperialistas que constituem perigo para o campo socialista, para os países neutros e para os países dependentes. Portugal não constitui uma força activamente prejudicial ao campo socialista, às potências neutras, nem mesmo aos países independentes de África. Dessa situação deriva o pouco interesse, de um modo geral, em atacar o colonialismo português.
Além disso, as colónias inglesas e outros países mais ou menos integrados no Commonwealth estão interessados em que a luta individual de cada uma dessas colónias ou desses países prejudique o inimigo comum: a Inglaterra. O mesmo sucede com as colónias e outros países mais ou menos dependentes da França.
Assim sendo, esses dois grupos de colónias e países mais ou menos dependentes da Inglaterra e da França, utilizam os Conselhos de Solidariedade para uma luta quase monopolizada contra a Inglaterra e França.
O nosso mal é que nenhuma organização séria e originária de colónia portuguesa (organização possuindo sobretudo uma consciência elevada da necessidade da luta comum e unida contra o colonialismo português) participa, como membro das organizações internacionais incumbidas de desenvolver acção em favor da solidariedade afro-asiática ou africana.
3 – Recebi, neste momento, a credencial. Esta vai já para o correio. (Hoje é quarta-feira, e são 14 horas)
4 – Tens, na verdade, razão: sou, por vezes, duro nas apreciações ao nosso trabalho. Não o faço, porém, por malvadez. Se se acreditar que o que me move é o desejo de elevarmos rapidamente o nível do nosso combate e o desejo de estreitarmos fortemente um trabalho colectivo e organizado, penso continuar a ser um «tanto» exigente e severo para com as nossas fraquezas capazes de serem corrigidas.
5 – O que me dizes da malta africana, na Lusitânia, alegra-me. Efectivamente, de um modo geral tudo avança.
6 – Estou de acordo em que se deva enviar cópias do nosso telegrama aos nossos compatriotas. Efectivamente ele será um factor de ânimo e mobilização.
7 – Vou preparar aqui alguns relatórios (projecto) para o Cairo, Londres, ONU e outras organizações. A malta de Paris ajudará a traduzi-los.
8 – Cumprimentos. Boa viagem e bom trabalho. Peço contactes sempre comigo, sobretudo durante a viagem. A Ruth deverá ter cópias exactas dos meus endereços, para o caso de ser necessário ela própria usá-los.
9 – Até hoje nada recebi do Pothek. [Pothekine]. Estou a zero sobre esta questão. Fala-me detalhadamente nela outra vez.
Adeus. Felicidades e Saúde. E brevemente nos veremos!
V.

[Acrescentado no início da carta: P.S. – Antes de partires, acusa a recepção desta carta, por favor]

Carta de Viriato da Cruz a Lúcio Lara

A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

Nomes referenciados