Carta de Lúcio Lara a Deolinda Rodrigues

Cota
0007.000.069
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Remetente
Lúcio Lara
Destinatário
Deolinda Rodrigues
local doc
Rep. Federal da Alemanha
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
1
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Acesso
Público

Carta a Deolinda Rodrigues [dactilografada] Frankfurt/Main, 30 de Novembro [de 1959] Cara amiga, Permita-me que a trate deste modo. Já há algum tempo a conheço de nome; desde que passou por Lisboa que me falaram de si como uma Angolana consciente da realidade da sua Pátria; creio que estará decidida a dar a sua melhor contribuição à luta que travam os nossos irmãos, agora a contas com o terror policial português. É a propósito disto que lhe escrevo. Em primeiro lugar quero avisá-la de que num processo em que estão envolvidos os nossos irmãos presos e alguns portugueses progressistas consta o seu nome. Consta mesmo que existe um mandato de captura contra si. Não posso afirmar que seja verdade, mas tudo é admissível. Segundo informação de pessoa amiga que veio há dias a estas bandas da Europa, no referido processo entre outras coisas fala-se: de festas realizadas a pretexto de se reunirem; da Deolinda Rodrigues que era tradutora de inglês do grupo, da sua adesão ao movimento, de indivíduos de barcos estrangeiros portadores de revistas e doutros documentos; eu também sou citado no processo. A pessoa que transmitiu estas informações refere-se também a que os n/ irmãos não pretendem defender-se das suas actividades, mas transformar o julgamento numa acusação do colonialismo. Para isso contam com o apoio dos que estão fora, como nós, pelo menos no que diz respeito a divulgar o que se passa em Angola. Por aqui temos feito o possível e alguma coisa já foi conseguida: assim, no jornal belga «La Gauche» saiu uma página inteira falando das prisões de Angola; também o semanário inglês New Statesman, pela pena de Basil Davidson se referiu largamente ao assunto no dia 21 de Novembro; por outro lado comunicou-se o caso para o jornal do Congo «Présence Congolaise», para o Comité de Solidariedade Afro-Asiática do Cairo, para o Comité Executivo da All African People’s Conference e para o Committee of African Organisations de Londres, pedindo-lhes que enviem telegramas de protesto ao governo português. Este último já nos respondeu prometendo fazer tudo o que estiver ao seu alcance. A «Présence Africaine» também vai enviar ou já enviou telegramas ao gov. português. Escreveu-se também para aí para o Brasil a um amigo nosso que é o Presidente da Associação Cultural do Negro, pedindo-lhes uma atitude favorável aos n/ irmãos. Não se recebeu qualquer resposta e como já se lhe escreveu há muito tempo receamos que a carta se tenha extraviado. Por isso talvez não fosse mau que você, se pudesse, se pusesse em contacto com essa Associação e lhes pedisse uma atitude enérgica. O Presidente chama-se Geraldo Campos de Oliveira (Conselheiro) [Acrescentado à mão, na margem: Conhece-me pessoalmente; estivemos juntos no Congresso de Roma] e mora na rua Álvares Machado 22, 9º S. Paulo; a Associação Cultural do Negro é na rua S. Bento 405 16º andar. Fale com essa gente e exija-lhes uma atitude, quer divulgando aí no Brasil os n/ problemas actuais, quer telegrafando ao Governo Portug. ou escrevendo para protestar contra os crimes que eles estão cometendo em Guiné e Angola. Vamos agora telegrafar à ONU pedindo os bons ofícios do Secretário Geral a favor dos nossos irmãos e protestando contra a posição portuguesa naquela Organização recusando-se prestar esclarecimentos pedidos, sobre as colónias. Deve em breve receber os artigos dos jornais a que acima aludi. Se puder fazer chegar o conteúdo desta carta, no que se refere às diligências já feitas, à nossa terra, com segurança, seria bom. Quanto a si será conveniente informar-se, talvez com o Conselheiro Campos, qual o risco que você corre existindo um mandato de captura contra si; tenho a impressão que o governo Brasileiro não pode entregá-la aos lusos. Seria óptimo que você desenvolvesse aí uma boa campanha contra o colonialismo português. Terá possibilidades de o fazer. Nós ajudá-la-emos com informações, artigos, etc. Será por exemplo possível publicar aí artigos sobre as n/ coisas? Responda-me através do Rocha. As minhas fraternais saudações. ass.) Lúcio Lara

Carta de Lúcio Lara (Frankfurt/Main) a Deolinda Rodrigues

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