Carta de Lúcio Lara a Viriato da Cruz

Cota
0007.000.052
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Remetente
Lúcio Lara
Destinatário
Viriato da Cruz
local doc
Rep. Federal da Alemanha
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Carta a Viriato da Cruz [dactilografada] Frankfurt, 16.11.59 Caro Viriato Respondo às tuas duas últimas cartas de 13. De acordo com o telegrama. Ele porém não custa 15 pf. por palavra, mas 97. Isso é o menos, atendendo ao interesse que a coisa pode ter. Envio-te uma proposta de telegrama, baseada no teu e tendo em conta sobretudo duas questões. A primeira é que o Secretário Geral não tem competência pª fazer pressão, a segunda é o interesse que pode ter pª os países que têm defendido a n/ questão que peçamos ao Sec. Geral que ele dê conhecimento do assunto à quarta comissão, que é a que trata dos Territórios sob tutela e não autónomos. Isso poderá provocar discussões interessantes que de qualquer maneira darão ao caso a projecção por nós requerida. Eis pois o que eu proponho: EM NOME etc até ao primeiro «apelamos» – APELAMOS VOSSOS BONS OFÍCIOS JUNTO GOVERNO PORTUGUÊS FIM SISTEMÁTICAS ATROCIDADES E NEFANDOS ASSASSINATOS CONTRA POVO AFRICANO GUINÉ E ANGOLA LIBERTAÇÃO PRISIONEIROS POLÍTICOS SUSPENSÃO PREPARATIVOS REPRESSÃO ARMADA STOP AGRADECEMOS TRANSMITA ISTO QUARTA COMISSÃO E NOSSO PROTESTO CONTRA POSIÇÃO PORTUGUESA ONU CONTRÁRIA ESPÍRITO CARTA E DECLARAÇÃO UNIVERSAL DIREITOS HOMEM STOP Seria por outro lado um pouco mais económico. Acresce que penso que deveríamos assinar nomes e apelidos e não só apelidos. Diz algo a este respeito; escrevi pª Paris mandando os textos e pedindo-lhes que sugiram urgentemente quaisquer modificações ou acrescentos. Tinha pensado que seria uma óptima ocasião pª pedirmos pª sermos ouvidos (o que com certeza não seria concedido, mas levantaria discussão). Sucede porém que nem temos um endereço pª dar dada a n/ situação instável e ainda que não temos por ora possibilidades materiais de nos deslocarmos no caso hipotético de vir uma resposta afirmativa. Parece-me pois ser de aguardar melhores condições pª um pedido de audiência que no entanto devemos começar a encarar. Não sei se já te disse que o Marcel [Marcelino dos Santos] tinha recebido ordem da pol. Franc. pª abandonar até ao dia 13 a França. Ele estava a mexer-se, não sei que resultados conseguiu. Ciente de que tens visa até 30. E depois? Diz-me concretamente o que projectas. Eu estou praticamente na mesma situação. O Embaixador da Gu.[iné] em Paris disse que ia comunicar o m/ caso às autoridades do seu país. O Emb. do Gh.[ana] aqui ainda se não pronunciou sob[re] a cedência de um visa. Há a hipótese de partir pª Túnis, onde ao que parece, tenho de me informar mais concretamente, não exigem visa e apenas passaporte válido, ao passo que pª entrar no Marrocos é preciso um pass com 3 meses de validade, além de visa. Em última análise há ainda a hipótese de pedir asilo aqui, cujas informações me vão ser fornecidas pelos B [Bouvier]. Esse asilo seria apenas pª ter um pass de estrangeiro que permitisse ter um visto quando fosse possível, pois sem pass não há vistos. Já pensaste nisso? De qualquer maneira esta semana tenho de tomar decisões definitivas. Se puderes escreve ainda qualquer coisa que julgues oportuno. Escusado será dizer-te que em qualquer das hipóteses estou a pensar em todos e não apenas na m/ pessoa. Escolherei aquela que me parecer mais útil pª todos nós, Rocha inclusive. Não podemos de modo algum desamparar este moço que novo como é não receou dar o passo que deu. Com a mudança e encaixotamento dos livros etc. tenho perdido um tempo precioso. Ainda gostava de acabar de ler o teu trabalho. O Rocha já o leu, a Ruth ainda não teve tempo e eu vou em pouco mais de metade, mas é possível que se não houver novidade o acabe hoje ou amanhã, talvez amanhã. Quero mandar-to ainda a tempo de decidires qualquer coisa com esses tipos. Até aqui acho um bom trabalho, que peca por ter sido talvez compilado à pressa, carecendo portanto que o repenses e cortes e acrescentes o que ele necessita pª adquirir uma unidade contínua (que a m/ver ainda não possui). Quando acabar de o ler espero dar-te uma opinião definitiva. Está contudo um trabalho importantíssimo que se impunha e que espero continue. Hoje não posso ser mais extenso. Saudades da Ruth. Um abraço do ass.) L. PS – Podes continuar a escrever lá pª casa.

Carta de Lúcio Lara (Frankfurt/Main) a Viriato da Cruz

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