Carta de Mário de Andrade a Lúcio Lara

Cota
0007.000.051
Tipologia
Correspondência
Impressão
Manuscrito
Suporte
Papel comum
Remetente
Mário Pinto de Andrade
Destinatário
Lúcio Lara
Locais
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Carta de Mário de Andrade
[manuscrita]

Paris, le 16-XI-59
Meu caro Lúcio,

Respondo sucintamente à tua carta de 11. Ainda não tive tempo de passar pela editorial. Escreveste para lá? Aguardo a chegada do Embaixador para tratar do teu assunto. Espero que a decisão tomada pelo Presidente de se deslocar a Moscavide não venha complicar as coisas. Conseguiste a entrevista em Bonn?
Ando aqui a ver se consigo massa, através ligações altamente sérias. Se pudesse ir ao Brasil... Como sabes, o General passará em breve por P.
O Castro [C. Soromenho] e o F. Costa [José Fonseca e C.] chegaram bem. Este último trouxe-te apenas duas publicações: «Grémio do Milho do Ultramar» (relatório de 1958) e o «Relatório do Banco de Angola» (1958). Estou a compulsá-los, neste momento. Solicita ele, F.C. ajuda nossa que eu não prometo dar. O rapaz não pertence, ao que vejo, às nossas «coisas». Consta em Lisboa (nesse meio de linguarudos lusitanos) que tu necessitas de dinheiro para ir pª África. E é natural que os gajos comecem a divulgar que temos aqui «agências de viagem» para a G.[uiné]! É uma chatice! Recuso-me a dar um passo. Não entro nessas provocações. Vem com notícias alarmistas: que várias pessoas fizeram depoimentos na polícia em Luanda, acusando-me de «dirigir» de Paris planos revolucionários, etc...
Vê se «mandas calar a boca» dos nossos rapazes de L. Voltando ao teu assunto, sugiro que escrevas uma nota sobre as tuas capacidades de ensino, nos quadros da G. (teus diplomas c/ menção de disciplinas). Isso facilitaria a minha tarefa, a menos que se encare a possibilidade do direito de asilo político.
Estou desacreditando na acção do Mac. A questão essencial, em meu entender, é a luta em termos concretos: G. e A. [Angola]. Daí a urgência da vossa partida. O nosso doutor H. [Hugo de Menezes] não diz nada de novo; apenas enviou bilhete para a sua noiva que já abalou.
Marcelo [Marcelino dos Santos] foi até Bruxelas. Não sei se já regressou. Logo tratarei do assunto do programa.
Põe-me ao corrente do desenrolar dos acontecimentos em Angola. Viriato comunica-me mais nomes de presos: Mário António e Jacinto. Tens o ABC?
Saudades à Ruth e recomendações da Sarah.
Um abraço do teu
Mário

[Acrescentado na margem: Aguardo a encomenda entregue ao tal Vieira.
Rectificação: Tenho de facto um jogo de talheres. Mas como enviar essa coisa para aí? Junto uma carta para o Viriato.]

Carta de Mário de Andrade (Paris) a Lúcio Lara

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