Carta de Lúcio Lara a Viriato da Cruz

Cota
0007.000.045
Tipologia
Correspondência
Impressão
Manuscrito (2ª via)
Suporte
Papel comum
Remetente
Lúcio Lara
Destinatário
Viriato da Cruz
local doc
Rep. Federal da Alemanha
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
5
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Carta a Viriato da Cruz [manuscrita] 8/XI/959 Meu caro Afinal ainda não parti para Paris, nem sei bem quando parto. Entrevi a possibilidade de falar c/ o Embaixador de Ghana em Bonn, por outro lado chegou a carta do Barden cuja cópia envio e além disso o Mário escreveu-me que não fosse já pois o Embaixador da Guiné estava ausente e que eu não iria adiantar nada. Por tudo isso resolvi ainda ficar cá mais esta semana para ultimar ainda umas coisas. Escrevi de novo ao Barden dizendo que acompanhávamos com entusiasmo todas as afirmações do Primeiro Ministro sobre as n/ terras, que agradecíamos o interesse deles pelo n/ assunto, mas que me via obrigado a procurar outra solução pelo menos provisoriamente se até ao dia 15 não tivesse qualquer resposta concreta deles, pois não queria estar em território Oeste Europeu c/ um pass caduco. Voltei a falar no teu caso e creio ter-lhe mostrado mais uma vez que a nossa situação não é mto agradável, e que embora saibamos que o P.M. está directamente interessado na n/ questão gostaríamos de saber algo de mais concreto. Não sei se será possível falar c/ o Embaixador do Gh. [Ghana]. A entrevista foi pedida através do Conselheiro da Embaixada que está a tratar do cargo do Bou. [Bouvier] como Attaché de Presse do Gh. aqui em Frankfurt. Claro que pus o problema pessoalm/ e mesmo ao Embaixador (se falar com ele...) porei o caso c/ os cuidados requeridos, tencionando embora falar em ti. Por outro lado o Sékou Touré passa cá a 16 e estou a pensar se não seria melhor falar com ele do que c/ a Embaixada em Paris. Tudo depende da possibilidade de falar c/ o Emb. do Gh., pois se não conseguir é possível que parta para Paris ainda esta semana (talvez dia 11). Mas não decidi nada ainda, pois aguardo ao mesmo tempo carta do Mário que ficou de expor a situação ao Emb. da Guiné em Paris. Junto vão os documentos pedidos. Ainda não vai o teu trabalho, pois com as imensas chatices que tenho tido e com a dificuldade que cá tem havido em casa para fazer qualquer coisa, tudo se me atrasou. Como tencionava (e tenciono) ir a Paris nada comuniquei para lá sobre a t/ opinião acerca dos subterrâneos, que aliás creio ser a opinião de todos nós. A Ruth está a passar o teu artigo pª se enviar para Paris. Ela coitada, também não sabe para que lado se virar, pois o trabalho acumula-se e temos dias em que a família não permite que avancemos, pois conversam ou brincam, e como agora tudo fica em casa por causa do frio é impossível escrever-se à máquina a não ser depois de todos se deitarem. Aliás, ainda esta semana vamos procurar sair cá de casa, pois embora a família não diga nada nós notamos que estamos a mais. Também não admira, já são 8 meses! Eles aliás são simpáticos, mas de facto não conseguem esconder a vontade que têm de nos ver pelas costas, aliás bem compreensível. Ainda por cima agora temos dois enormes caixotes a atravancar-lhes a cozinha, pois tivemos que encaixotar as n/ coisas na perspectiva de sairmos para qualquer lado. Passemos à tua carta. 1) Estamos esclarecidos quanto às más interpretações. É verdadeiramente de lamentar que estejamos separados. Isto de correio nestes assuntos é sempre uma chatice. Esperemos que seja por pouco tempo. 2) Quanto aos subterrâneos, estou de acordo c/ o que dizes, como aliás já tínhamos discutido parte dessas questões aqui. Põe-se um problema quanto a quem entabularia as relações ou antes as negociações. Concordo que se faça a coisa cá fora, mas sucede que, como já te disse, quando saí de Lx estava para se dar um encontro à escala de Direcção. Não sei se se efectuou e o que ficou decidido. Talvez para já convenha tratarmos desta questão. Ainda nada enviei para Lx pois estava à espera de lhes dizer algo de concreto sobre a n/ abalada e não convém enviar mensagens (mesmo com toda a segurança) com frequência. Creio que se poderia dizer ao Mário que lhes dissesse isto (que em Lx se estaria a tratar do assunto) e que ao mesmo tempo os fizesse sabedores de propostas concretas que nós fazíamos para a realização de um encontro fora do «jardim» [Portugal], condicionado evidentemente a uma troca de impressões n/ c/ Lx. 3) De facto o m/ plano «in extremis» para sair da Europa é um pouco arriscado, mas realmente as negociações diplomáticas por nós encetadas têm-se revelado algo morosas e eu ainda não sei a que lei ficarei sujeito c/ um pass fora de validade. Era aliás uma pergunta que eu gostava de pôr ao Embaixador. 4) Aguardo cópia do programa. Como fazê-lo chegar a Lx? Creio que só por portador. A verdade é que até aqui todas as n/ tentativas para arranjar uma base de comunicações eficiente ainda não resultaram. A propósito pensei que podias enviar as cópias ou a notícia do Mário para a n/ terra através do amigo «Canário». Também se vai enviar pª uma moça que está no Brasil (Deolinda R. de Almeida) para ver se ela consegue enviar de lá pª a terra. 5) Quanto ao Rocha o moço é mesmo interessante e ousado. Apesar das dificuldades não quer voltar pª o Jardim onde tem uma bolsa pª estudar Medicina. Tem um bom fundo patriótico, e creio que com o tempo virá a ser um bom elemento. 6) Escrevi para o Cairo e para o Committee of African Organisations sobre as prisões. Seguem cópias. Embora devagar vamos estendendo os n/ contactos. O que não seria se tivéssemos um Bureau em condições... A ideia do Cairo não é de pôr de lado. Porém creio que seria bom esgotarmos os recursos que nos permitam ficar mais perto dos nossos. 7) Entre as coisas que seguem vai uma carta da de B. [de Bary] filha. Elas desconfiam que eu vou ter contigo e não pª Paris. A propósito. A Bou. SABE onde te encontras. Um dia em que estávamos sozinhos ela disse-me que não podia calar por mais tempo que estava sentida contigo pela falta de confiança que demonstravas para com eles. Que tinha lido algo escrito sobre ti que alguém daí lhe tinha enviado (penso que aquela entrevista que me mandaste; não aprofundei) e que fingia perante todos, mesmo perante o marido, ignorar onde te encontravas, mas que ninguém acreditava q. tu estivesses na Bélg.; a própria de B. lhe teria dito que não acreditava. Eu disse-lhe que eu sabia que tu estavas na Bélgica, e que se ela tinha outras informações eu nada podia fazer pª a convencer ou desconvencer. Em todo o caso todas as minhas palavras soaram falso, e ficámos os dois muito chateados por muitos sorrisos e mudanças de assunto que fizéssemos. Deixo-te o cuidado de pensares nesta questão. Eu aliás disse-lhe que a última vez que me tinhas escrito tinhas dito que liberto enfim de uma série de dificuldades ias escrever aos amigos. O Rocha agora está na de B., pois a família Lissner está em férias. Eles continuam a ser bastante amáveis para todos nós. Vai um artº (cópia) que o Ernesto escreveu e em que se refere a ti. Bem, já é tardíssimo e a mulher já está a chatear para irmos pª a cama. Podes continuar a escrever cá pª casa. Dir-te-ei algo de concreto logo que saiba. 1 abraço de todos nós t/ L.

Carta de Lúcio Lara (Frankfurt/Main) a Viriato da Cruz

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