Carta de Marcelino dos Santos a Lúcio Lara

Carta de Marcelino dos Santos
[manuscrita]

Paris, 17 Outubro 59
Caro Lúcio

Recebi anteontem o teu postal e desde já te apresento as minhas «humbles excuses» por não teres recebido as informações que pedias. Infelizmente foi por culpa do Mário. Em efeito não há interesse em enviar-te muitas cartas, de um e de outro. Assim, juntamente com as informações relativas ao Dr. da Guiné, aos documentos daí vindos, etc..., ele, M., devia informar-te do seguinte:
– a démarche continua o seu caminho, espera-se resposta da UIE. O pedido do nosso amigo1 seguiu juntamente com os pedidos da organização dos estudantes daqui, e eles também ainda não receberam resposta para os seus.
– Como porém não podemos ainda saber se a resposta será positiva e ainda porque ele tem bolsa, e creio, pode voltar ao jardim à beira mar plantado, sugerimos que se inscreva na Faculdade em Lisboa, para o caso de a resposta ser negativa. Pensamos que talvez assim se economizasse um ano (Isto evidentemente no caso de não se encontrar melhor solução).
– Por outro lado e para o caso de a resposta ser positiva, é útil que ele tenha consigo:
– Certidão de nascimento
– Certificado do 1º ano da Faculdade, e
– Certificado do 7º ano
– 2 ou 3 fotografias de bilhete de identidade
[Acrescentado na margem: Estes documentos não são para mandar, mas para que ele tenha consigo, já preparados]
Tudo o mais que for necessário, comunicarei.
Por descuido, estas informações não vos foram comunicadas – e eu estava convencido que já as possuías, pois decidíramos quando conversámos sobre o resto.
O ES [Guilherme Espírito Santo] após viagem de 4 a 5 dias a Bruxelas regressou, para ver se empreende certas démarches, esperando a ocasião de partir para Af.
Aproveito agora a oportunidade para te agradecer as fotos – a «nature morte» em particular ficou esplêndida, melhor do que se a foto tivesse saído boa. O postal que a Ruth nos enviou é belo (a «garota» tem basta sensibilidade). Merci Madame.
Saudades para vós todos
Marcel.

P.S. Estou impossibilitado de dar-te um prazo para a solução da situação do nosso amigo. Espera um pouco. Não descuramos.