Carta de Lúcio Lara a Mário de Andrade

Cota
0006.000.089
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Remetente
Lúcio Lara
Destinatário
Mário Pinto de Andrade
local doc
Rep. Federal da Alemanha
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
1
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Acesso
Público

Carta a Mário de Andrade [dactilografada] Ffm. [Frankfurt/Main], 24.9.59 Caro Mário Votos de bem estar para vós ambos. Após uma maçadora viagem cá cheguei. A Ruth gostou imenso das flores, foi mesmo do que mais gostou entre todas as prendas que toda a família e os amigos de cá lhe deram. Não há dúvida que a Sarah sabe comprender um determinado número de problemas que dizem respeito à mulher ausente, ou antes, distante. Não quero deixar de vos agradecer toda a camaradagem com que me rodearam, sabendo embora que isso é apanágio da nossa malta. Quando cá cheguei encontrei uma carta daquele nosso amigo que esteve entre nós em Maio1. Envio-te uma cópia integral de um documento que ele entregou ao Gov. de Gh. [Ghana], com quem teve conversações a respeito dos nossos problemas que decorreram bem. Ele tencionava fazer o mesmo na G. [Guiné Conakry], mas não sei se teve tempo. Uma coisa chata que ele diz é que o nosso patrício que estava lá e que actualmente está em Nova York2, não merece a mínima confiança, pois é «um bandido. Cobarde, inconsciente, mulherengo, bebedor de cerveja, tem malbaratado todo o dinheiro que a nossa gente lhe manda e não tem sido pouco». «É preciso substituí-lo e desmascará-lo perante os nossos. Mais uma razão e forte, pª a vinda imediata de um de vós, pelo menos pª... Parece que pretende ficar na América pª estudar. É preciso não deixá-lo representar-nos na ONU. É um traidor e um bandido.» Como vês, nada mais triste... Pª já, se ainda não o fizeste, evita escrever pª o tal amigo americano sobre o senhor. Temos que ver como o desmascarar e impedir que nos represente (aos angolanos). O tal documento junto é uma parte de algo que ele redigiu apressadamente como introdução a conversações que teve depois. Que me dizes do que se passa quanto ao E.S. [Guilherme Espírito Santo]. Será que vocês serão objecto das mesmas medidas, ou será pelo facto de ele já não ser estudante e... Aliás a coisa espantou-me tanto mais quanto ele não tinha sido chateado como vós. Sinceramente não percebo. Chegaste a dar as últimas recomendações à nossa amiga3? Fiquei algo desgostoso pois me pareceu que ela já não está tão entusiasmada como antes. Na opinião do amigo que nos escreveu há urgente necessidade de fazer algo que tenha repercussão internacional, para reanimar a luta, um pouco abalada com os últimos acontecimentos. Já tiveste notícias mais concretas do H.M. [Hugo de Menezes]? Admira-me que ele não tenha também escrito pª cá. Bem, por hoje nada mais. Já estive com os B. [Bouvier] que te mandam cumpr. Estive ontem a ajudá-la nuns pormenores da tradução, e devo lá voltar sábado. Ontem ouvi cá uma interessante palestra de um jornalista que fez uma viagem por toda a África, menos a Portuguesa e Nigéria. Creio que fará pª o ano que vem esta viagem. Ele conheceu todos os chefes de Governo e líderes dos povos africanos. Tem uma maneira de ver os problemas bastante interessante e nada deformada pela opinião que aqui se encontra geralmente. Vou conhecê-lo em breve mais intimamente e talvez se possa tirar qualquer vantagem desse facto. Bem, adeus. Um grande abraço à Sarah. Teu ass.) L. [Acrescentado à mão:] c/ uma cópia do documento entregue por A. no Gh.

Carta de Lúcio Lara (Frankfurt/Main) a Mário de Andrade

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