Carta de L. Lara ao All-African People's Conference

Cota
0006.000.077
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Remetente
Lúcio Lara
Destinatário
Secretariado da All-African People's Conference
local doc
Rep. Federal da Alemanha
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
3
Acesso
Público

Carta do MAC à Conferência Panafricana [dactilografada – original em inglês] Frankfurt, 8 de Setembro de 1959 Ao Secretariado da CONFERÊNCIA PANAFRICANA C.P. 921 ACCRA Caros amigos, Devemos dizer-vos o quanto estamos surpreendidos com o vosso silêncio no respeitante às nossas cartas datadas de 8 de Maio, 15 de Maio e 1 de Junho, que vos enviámos ao cuidado do Sr. K. Botsio, pedindo, para além de outras informações, a filiação do MOVIMENTO ANTI-COLONIALISTA na ALL-AFRICAN PEOPLE’S CONFERENCE. Apesar disso somos obrigados a escrever-vos uma vez mais a fim de vos pedir que desencadeiem uma acção, que cremos fazer parte das vossas obrigações. Acabamos de ser informados que as autoridades coloniais portuguesas estão a intensificar cada vez mais a repressão policial contra o povo africano em Angola e na Guiné. Em Junho e Julho, apenas em Luanda (capital de Angola) houve mais de 120 detenções. Os prisioneiros são acusados de lutar contra a soberania portuguesa. Muitos deles são essenciais para a nossa luta anti-colonial. As prisões estendem-se por toda Angola e é ainda difícil conhecer exactamente o seu número. Entre os prisioneiros encontram-se os conhecidos angolanos ILÍDIO MACHADO, VIANA DE ALMEIDA, VIEIRA DIAS, LEITÃO PEREIRA, irmãos BENGE, CATUTO FERNANDES, irmãos GUERRA, MINGAS, GRAÇA, Doutor BOAVIDA. Como sabem, o regime nas colónias portuguesas é colonial-fascista. Em Angola muitos crimes e brutalidades desumanas são cometidos nas prisões e nos campos de concentração. Por exemplo, o angolano BENGE encontra-se paralítico e surdo, em consequência das torturas. Por outro lado, segundo notícias vindas da colónia portuguesa da Guiné, soubemos que, em consequência de reivindicações salariais dos marítimos de Bissau, as autoridades portuguesas abriram fogo sobre a população. Houve muitos mortos e feridos (o jornal francês LE MONDE menciona 12 mortos). Os marítimos insistiram nas suas reivindicações e então as autoridades coloniais impuseram o recolher obrigatório, o que lhes permite empregar as medidas mais brutais para reprimir o descontentamento crescente do povo guineense. Como sempre, o Governo português, receando a opinião internacional, esconde todos estes factos até dos portugueses na Metrópole, enquanto aumenta as suas forças militares nas duas colónias. É absolutamente necessário que o Governo português saiba que, apesar do seu cinismo, os seus crimes transpiram para a exterior. O que pretendem fazer? Ficar-lhes-íamos gratos se o Secretariado da ALL-AFRICAN PEOPLE’S CONFERENCE adoptasse uma atitude adequada em relação a esta séria situação em Angola e na Guiné, cujos povos lutam pela liberdade no meio das maiores dificuldades. Esperamos que, pelo menos, o Secretariado da ALL-AFRICAN PEOPLE’S CONFERENCE envie urgentemente telegramas para o Ministro do Ultramar – Lisboa, Governador Geral de Angola – Luanda e Governador Geral da Guiné – Bissau – protestando contra as prisões massivas e as brutalidades desumanas cometidas contra o povo angolano nas prisões e nos campos de concentração; – exigindo a libertação imediata de todos os prisioneiros políticos em Angola e na Guiné; – protestando contra o assassinato de trabalhadores guineenses e denunciando o sistema repressivo utilizado contra o povo da Guiné; – protestando contra a crescente e jamais vista concentração de tropas na Guiné e em Angola. Agradecemo-vos de antemão. Cordiais saudações ass) L. Lara P.S. Poderíamos pedir-vos que enviassem com urgência cópias dos vossos telegramas? Por favor, respondam para Lúcio Lara Cópias para: Sr. TAIEB SLIM1 Camillo Sitteweg 71 Sr. AHMED BOUMENDJEL2 FRANKFURT/MAIN 24 Sr. L. BEAVOGUI3 Alemanha Ocidental

Carta de Lúcio Lara ao «Secretaryship» da All-African People's Conference, falando das prisões e pedindo envio de telegramas

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