Rascunho de relatório sobre o Congresso de Roma

Cota
0006.000.073
Tipologia
Relatório
Impressão
Manuscrito
Suporte
Papel comum
Autor
Viriato da Cruz e Lúcio Lara
Data
1959
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
6
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Acesso
Público

Projecto de relatório para a secção do MAC de Lisboa
[manuscrito por Viriato da Cruz]1

Congresso dos Escritores e Artistas Negros [de] Roma – De fins de Março a começo de Abril deste ano realizou-se o II Congresso de E. e Art. Ng. em Roma. Moçambique (A) e Angola (B) estiveram pessoalmente representados. 1 congressista por Moçambique (A); 3 por Angola (B). Todavia, a actividade desses 4 não se limitou aos s/ próprios países. Trabalhou-se para a denúncia (II) do colonialismo (C) português (E) em todas as s/ colónias (D) de África. Os 4 apresentaram uma mensagem pela qual se denunciou (II) a miséria da instrução nas colónias portuguesas (D) e a responsabilidade das missões religiosas cristãs (WW) nesse aspecto da colonização (C) portuguesa (E). Para esse efeito, apresentaram-se números estatísticos e transcreveu-se, por exemplo, parte de um despacho do subsecretário do governo de Angola (B) sob[re] o ensino das missões católicas e protestantes. A mensagem, contrariamente ao q. pedíramos, não foi lida na tribuna do Congresso, em virtude, principalmente, do facto de o grupo católico do Congresso ter tido a direcção do mesmo nas s/ mãos. As nossas delegações desempenharam papel de relevo, no sentido de que intervieram em quase todas as questões de importância levantadas no decurso do Congresso. Os jornais italianos referiram-se às n/ deleg. ao narrarem a luta longa e apaixonada havida em torno da necessidade de o Congresso aprovar uma moção contra o colonialismo (C) e as experiências atómicas do Sahara (EAS).
Estabeleceram-se contactos com congressistas de vários países, africanos e americanos. Os contactos c/ os ganaenses (F) e guinéus (H) foram depois aproveitados.

Participação na A-A.P.C. (G) – Escrevemos em nome do MAC à direcção da Conferência (G) pedindo a nossa adesão à mesma. Até hoje não recebemos resposta. Junto remetemos (YO) cópia da Carta enviada a Ghana (F) – Escrevemos em nome do MAC (L), ao Presidente do C.P.P. (M), pedindo informações sobre a possibilidade de todos nós emigrarmos para o Ghana (N) e aí trabalharmos politicamente (O). O Presidente (M) deu andamento à nossa questão. Recebemos resposta dele e carta do Ministério (P) encarregado dessas questões. A essas cartas respondemos agora. Cremos ser viável o n/ pedido; Ghana, porém, não se compromete c/ as passagens (NN).

Guiné (H) – Escrevemos ao 1º Ministro (P) da Guiné (H). Este recebeu o nosso memorandum, redigido quase nos mesmos termos do enviado à Ghana (F). Ainda não recebemos resposta oficial. Mas fomos informados de que oportunamente receberíamos resposta.

Cairo (R) – Escrevemos, em nome do MAC (L) ao «Comité Permanente da Conf. Afro-Asiática do Cairo» (R), pedindo informações sobre uma Conferência q. se realizaria em Monróvia (J) e ao mesmo tempo contacto. Esse Comité respondeu manifestando desejo de estar em contacto connosco e pôs-se ao n/ dispor. Também se escreveu em nome do MAC (L) uma mensagem recente à reunião da (S) pª protestar contra a bomba no Sahara (EAS).

Secção da Alemanha (Ta) – os membros do MAC (L) na Alemanha (T), de acordo com o resolvido em Maio c/ o Abel (U), foram à Rep. Democ. Alemã (K). Lá foi posto o problema de conseguirmos o que se assentara na discussão de Maio. As démarches (J) não deram porém o resultado esperado. Um dos membros, depois de uma estadia lá de 2 meses, já regressou à Al. Federal (V2); o outro ficou, devendo sair de lá dentro de semanas. Continuamos tentando abrir portas de outros países pª gente n/ que queira emigrar.

África (AA) – Por questão de caducidade de passaportes (K); de acordo com o estabelecido nas discussões de Maio; e também porque não vemos mais utilidade de permanecermos na Europa (BB); um de nós necessita partir para África (AA) antes de 18/Oct. (CC), e outro antes de Dezembro (DD), sendo pois de prever a transferência da (Ta).

Secção de Paris (EE) – Esta secção tem estado em contacto connosco. Tem havido contacto recíproco mas pouco frequente. Na sua última carta, (EE) declara fazer reservas às nossas démarches (J) em Ghana (F) e Guiné (H). Não nos informou, porém, o conteúdo dessas reservas. Já respondemos à Paris (EE), solicitando uma crítica mais clara e construtiva.
Paris (EE) levantou um problema que convém ser resolvido definitivamente: o problema da delegação de poderes (W), da execução de resoluções (X) e da discussão por todas as secções (Y) de todas as questões a tratar ou tratadas. – É nosso parecer que, dadas as condições do nosso trabalho, o MAC (L) precisa de tomar a prazo um pouco longo resoluções gerais e especiais. Precisa ainda de eleger um comité executivo (FF) com plenos poderes para, durante esse período, representar o MAC resolver praticamente e dar solução prática às resoluções tomadas pelo Movimento (L) e dentro da linha geral da nossa política (O). Quanto à discussão por todos os membros (Y) sobre todas as démarches efectuadas ou a efectuar, pensamos que o realismo e o bom-senso devem sobrepor-se às exigências teóricas de um método democrático puro (Za). Somos de parecer que, se quisermos realmente fazer avançar, com segurança (Ka), os n/ problemas, há e haverá questões que – pela sua delicadeza política (O) ou mesmo militar (HH) – não podem nem poderão chegar ao conhecimento de todos os membros (Q) do MAC (L). A nossa luta não pode dispensar, em certa medida, do segredo (Qa). Este caso põe, portanto, o problema das relações entre todos os membros (Q) do MAC (L) e o comité executivo (FF) eleito pelo MAC (L). Esse problema não será resolvido a contento se não houver uma delegação de poderes (W), uma confiança de todos no comité executivo (FF), e se este não puser todos os escrúpulos em agir sempre honestamente.
Seja qual for a vossa opinião, agradecemos que, urgentemente (UR), em virtude de serdes aí a maioria (LL), tomem resoluções minuciosas a esse respeito e as comuniquem à secção de Paris (EE) e a nós (Ta).
Um dos membros (Q) da Alemanha (Ta) vai agora a Paris (EE) tentar harmonizar a actuação comum. Se algo de importante houver, comunicar-se-á.
A propósito dos recentes acontecimentos na Guiné (JJ) e em Angola (B) escrevemos pª a Associação do Negro Brasileiro (ANB), AII-African People’s Conference (G), (S), Londres (OE), jornais Observer, inglês, belga (Gauche). A campanha continuará. Às associações foi pedido o envio de telegrama (ET) ao Gov (I) Porto (E) e aos Governadores (Ia) de Ang. (B) e de (JJ), para (PPP) contra as prisões e os campos de concentração em Angola, contra o assassínio e o sistema repressivo na Guiné, exigindo a libertação de todos os prisioneiros políticos em Angola e Guiné, protestando contra a crescente concentração de tropas nos dois países.

1 angolano (B) que estava em Londres em contacto com a secção Alemanha (Ta) aderiu em Paris (EE) ao MAC (L) e foi pª Konakri (KK).
Não possuindo os que tencionam deslocar-se pª Gh. (F), o dinheiro exigido (ME), seria bom que enviassem pª a Alemanha (V2) ou pª a Bélgica (GB) até 30 de Setembro (TS) tudo o que for possível que se aproxime de 10 contos (DC). Os n/ sacrifícios financeiros (SF) têm sido enormes...

Futuro – Seria conveniente ter membros dispostos a sair logo que seja necessário. Nesta hora impõem-se grandes sacrifícios a todos os verdadeiramente interessados...

Comunicações – Continuam deficientes. Impõe-se RESOLVER este problema.
São necessários mapas.

Rascunho de relatório sobre o Congresso de Roma manuscrito por Viriato da Cruz e com correcções de Lúcio Lara + 1 p. solta manuscrita por Lúcio Lara com códigos

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