Carta de Viriato da Cruz a Lúcio Lara com projecto de Relatório para Lisboa

Cota
0006.000.071
Tipologia
Correspondência
Impressão
Manuscrito
Suporte
Papel comum
Remetente
Viriato da Cruz
Destinatário
Lúcio Lara
local doc
Rep. Federal da Alemanha
Data
Idioma
Conservação
Razoável
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Acesso
Público

d211
Carta de Viriato da Cruz
[manuscrita]
1.9.59
Meu caro Lara,

Saúde.
Junto remeto cartas que recebi ontem do Mário[Mário de Andrade]. Uma delas é para ti.
Pelo que o Mário diz, a crítica de Paris foi ditada, como eu sustentava na conversa que tivemos em Fürsten[walde], pelo desejo não-construtivo de criar confusão. Continuo na minha que alguns dos amigos de Paris estão mais interessados em fazer valer os seus interesses do que contribuir, seriamente, para a solução dos nossos seriíssimos problemas.
Como o Mário informa, a Noémia [N. de Sousa] virá à Alemanha. Creio que ela estará contigo e que vocês tratarão de assuntos importantes.
Verás se vale a pena enviar pela tua sogra o nosso relatório. Acho que sim, pois não sabemos o que poderá acontecer à Noémia. Há, portanto, que tomar cautelas quanto ao futuro, sempre problemático. Pensei que a chave para os pontos ou passagens do relatório poderá ser feita de maneira mais segura. Primeiro, no papel da chave deverás, talvez arrolar as passagens, que merecem segurança, não por rigorosa ordem alfabética ou numérica, mas de maneira salteada. Por exemplo:
A ou 1
F 4
G 10
Z 3.

Além disso, convém que arroles tudo da seguinte maneira, por exemplo:

2
4
3
10
A
Roma
estivemos
tratamos
Alemanha
B

O contorno que tracei a lápis são os contornos do papel em que farás a chave. Mas depois deverás cortar o papel da chave pela linha que, no modelo acima, tracei a vermelho.
Quer dizer: finalmente, haverá três papéis: um com o texto do relatório; outro com a simples enumeração (2, 4, 3, 10, etc) e outro com as frases do texto que foram postas em segurança. Os nossos amigos não terão mais que juntar a parte A e a parte B para verem a que frases correspondem os números (ou letras) do texto.
Se vires possível, pede à Mme Bouvier fotocópias dos nove contratos de Angola que vêm transcritos no livro «Anais de Angola» do Pe Ruela Pombo. Existe aí na biblioteca. O autor refere-se a esses contratos sobre o comércio de escravos à página 115 do citado livro. Mas ele transcreve-os quase no final do livro, num capítulo que, salvo erro, ele intitulou de NOTAS.
Julgo teres recebido duas cartas minhas. O Dicran [D. Mouradian] disse-me que t’as enviou, uma das quais registada, com carta para a A-APC [All-African People’s Conference].
Amanhã ou depois enviar-te-ei carta destinada ao comité do Cairo. Escrevi particularmente a um amigo do Vietnam. Mas acho que devemos escrever oficialmente ao comité de solidariedade afro-asiático deste país.
Estou, como podes calcular, cheio de trabalho. Quero acabar a 1ª parte do meu trabalho aqui e fazer chegar à União1 essa parte dactilografada. Compreendes que necessito de justificar o meu tempo aqui.
Visitei, na 4ª feira da semana passada, os Laub. Estive com o pai, mãe e a outra filha gorda que não conhecia. Simpáticos. Não sei quando lá voltarei, pois eles moram muito longe.
Escrevo-te à uma e meia da manhã. Cheio de sono.
Responde ao Mário. Eu vou fazê-lo amanhã, pois quero apanhá-lo ainda em Bruxelas. Cumprimentos a todos os nossos amigos. Interpreta junto deles, por favor, todos os meus sentimentos para com eles.
Recomenda-me aos teus sogros, à Ruth e à tua restante família.
Beijos ao meu querido amigo Paulinho.
O meu melhor abraço para ti
V.

Carta de Viriato da Cruz a Lúcio Lara com projecto de Relatório para Lisboa (Alemanha)

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