Carta de Mário de Andrade a Lúcio Lara

Cota
0006.000.067
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel comum
Remetente
Mário Pinto de Andrade
Destinatário
Lúcio Lara
Locais
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Carta de Mário de Andrade
[dactilografada]

Paris, le 28 Août 1959
Meu caro Lúcio,

Respondo imediatamente aos pontos essenciais da tua carta de 26, recebida hoje:
Comuniquei ao V. [Viriato da Cruz] há dois dias, uma carta para ti onde abordo principalmente o problema das decisões duma reunião que aqui tivemos. Por essa carta verás que o texto transmitido pelo E. S. [Guilherme Espírito Santo] não corresponde de modo algum aos meus pontos de vista. Considero isso um abuso de confiança, porquanto o E. S. permitiu-se não tomar em consideração a tal página dactilografada em que eu me insurgia contra o conteúdo e a forma do comunicado destinado ao vosso sector.
Em resumo, estou convencido por mim, que nada adianta esta ilusão de «secção de Paris». Um ponto me interessa esclarecer: urge ou não ter uma ligação orgânica com um dos movimentos angolanos? Por outras palavras, o que me interessa é dar a minha contribuição, no plano internacional e dentro das minhas aptidões, à luta que hoje se desenvolve pela independência de Angola. Claro que não abandono as ligações de ordem inter-africana, para os territórios sob dominação colonial portuguesa mas... basta de porcarias do tipo «lusitano» ou «luso tropical», como essa que acaba de acontecer. Espero recuperar o texto das minhas observações, para provar a minha sinceridade neste assunto. Sou dos primeiros a considerar essa merda como «decisões infelizes».
Interessaria que passasses por aqui, antes da tua partida. Ainda não consultei os outros, por falta de tempo: vejo raramente o E. S. (compreendes a dificuldade do diálogo) e o M. [Marcelino dos Santos] está em férias.
Estou a redigir uma nota sobre o terror policial que ora se desencadeia sobre nós, na base dos elementos que recebi; reconheço, porém, que tenho pouca coisa. E uma questão surge ao meu espírito: devo, sim ou não, fazer menção da existência de organizações políticas? E na afirmativa, em que termos? Parto de Paris na próxima quarta-feira, estarei nesse dia de passagem por Bruxelas, e de 3 a 7 de Setembro em Knokke-le Zoute. Escreve-me, durante esse período para:
Hôtel Miramar
19, Avenue de la Sirène. KNOKKE-LE ZOUTE (Belgique)
(4ème Biennale Internationale de Poésie)
Penso que tu deves escrever directamente, em nome do movimento, ao George Padmore, cuja direcção é simplesmente esta: Prime Minister’s Office – Accra. Carta registada, com aviso de recepção.
Que posso fazer por ti em Bruxelas? Curiosa, essa burocracia do Leste!...
Não sei que deva aconselhar no caso do rapaz de que me falas na tua carta.
A mensagem através de Liège, continha de facto a carta do B. Como o Césaire vai a Conakry, por voltas de 15 de Setembro, vou encarregá-lo de interferir junto do S.T. [Sékou Touré] sobre as nossas questões. Ele já me deu o seu acordo. Prepara aí o que queres que lhe diga concretamente.
O V. já chegou a Liège? Recebi dessa cidade a última carta dele. Se assim for, ele poderá encontrar-se comigo, certamente.
Cumprimentos da Sarah e um abraço para a Ruth. Um abraço do teu
ass.) Mário

[Acrescentado à mão: Obrigado pela foto]

Carta de Mário de Andrade (Paris) a Lúcio Lara

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