Resposta de Lúcio Lara e Viriato da Cruz à acta enviada de Paris

Cota
0006.000.059
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Remetente
Viriato da Cruz e Lúcio Lara
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Acesso
Público

Resposta de Lúcio Lara e Viriato da Cruz à acta enviada de Paris [dactilografada] Berlim, 18 de Agosto de 1959 Caros Amigos Respondemos à acta da vossa reunião de 14 de Julho p.p. Preferimos não começar por lamentar, inutilmente, uma ou outra das vossas críticas absolutamente injustas. Ao contrário, propomo-nos encarar séria e amigavelmente as divergências que nos separam. O que pretendemos com esta carta é ultrapassar de uma vez para sempre a fase polemista, verbal, de um desejo colectivo de acção que, desde longa data, tem encontrado no nosso seio dificuldades de ordem técnica e pessoalista. 1 – Em vez de nos terem dito que todas as iniciativas tomadas em nome do MAC deveriam ser sancionadas por todas as secções, achamos que seria mais útil e construtivo que nos enumerassem concretamente as iniciativas por nós tomadas e que não foram levadas ao conhecimento das secções a fim de por elas serem sancionadas. Admitindo ainda que, por «sancionar» quereríeis antes dizer «aprovar previamente», acharíamos mais útil e construtivo que nos indicásseis os meios práticos e seguros a utilizar para fazer chegar a todas as secções as «nossas» iniciativas. Aliás quanto à questão do Ghana e da Guiné, não só ela vos foi comunicada através de dois membros presentes ao Congresso de Roma, como até se vos pediu um parecer escrito antes de efectivarmos a démarche. As razões por que esse parecer não chegou no prazo por nós estipulado nem sequer nos foram comunicadas. 2 – Será que nos podereis, por exemplo, confirmar que as cartas escritas em Dezembro ao Padmore foram autorizadas previamente e sancionadas por todas as secções? Mesmo posteriormente fizesteis algum relatório dessas démarches a ser sancionado por elementos de outra ou outras secções? 3 – Um dos signatários1 tem poderes, recebidos em Lisboa, para, no plano exterior, actuar em nome do MAC; até agora porém nunca tomou qualquer iniciativa isolado. Além disso, tudo quanto foi executado depois de Maio, foi decidido em reunião colectiva com um membro de Lª2, que aí teve discussões convosco. Estamos convencidos de que essa reunião de Maio em Frankfurt, teve um carácter mais colectivo (do ponto de vista de ideias e planos) do que a havida em qualquer outra parte, porque nela foram expressos os pontos de vista de Lª, Paris e Frankfurt. 4 – Questão do Carimbo: Registamos e aceitamos o vosso aviso de que o carimbo deve ser utilizado por delegação de poder que não é definitiva nem geral. Só há um carimbo, que está na posse do membro que foi encarregado por Lª das relações exteriores. 5 – Estamos de acordo que deve haver reuniões frequentes. Nós aqui estamos realmente em contacto frequente e costumamos tentar levar rapidamente à prática todas as decisões tomadas. Podereis vós dizer o mesmo? O facto de só em julho nos virem falar de um problema (Béhanzin) que já estava no vosso conhecimento em princípios de Abril, em Roma, revela um tipo de frequência de reuniões algo inconveniente, com que francamente não estamos de acordo, dado que as vossas condições são bastante melhores que as de Lª, e de lá tenta-se reunir frequentemente. 6 – Não é construtivo nem elegante que se façam reservas aos Memorandos pª a Gu. [Guiné Conakry] e Gh. [Ghana], sem ao mesmo tempo as explicitar. Queremos estudar essas «reservas» e corrigir qualquer erro, a fim de entrarmos em plena concordância convosco e fazer andar para a frente o essencial que nos parece ser válido para todos nós. Agradecemos pois que nos comuniquem urgentemente o conteúdo exacto das vossas reservas, a fim de reiniciarmos sem demora todas as démarches. 7 – Amigos: Um bom trabalho de équipe, no presente e no futuro, deverá ser feito tendo-se em consideração o que já se conseguiu em matéria de unidade de propósitos, de organização de todos nós na Europa e de militância de alguns dos nossos membros. Isso que já foi feito – principalmente de há dois anos para cá – deve ser preservado e reforçado. A secção de Paris não pode infelizmente apresentar um palmarés de vanguarda nesse trabalho de unidade orgânica e acção. Talvez por isso mesmo tem levado tempo a sair de uma posição de crítica verbalista que, para a altura em que estamos, é mais embaraçante que construtiva. 8 – Questão das cotas: Não a tratámos na reunião de Frankfurt, infelizmente. E isso mais porque não nos lembrámos dela do que por outro qualquer motivo criticável, tanto mais que a Secção da Alemanha prefere dizer que não tem feito menos sacrifícios financeiros pelo MAC do que qualquer outra secção. Sobre este assunto gostaríamos que nos dissessem como encararam ou tencionam encarar a transferência das cotas pagas à organização. 9 – A secção da Alemanha está desde há muito completamente entregue a uma militância activa pelos propósitos do MAC. Por consequência teremos muito interesse em trabalhar como até aqui, por actos, em prol de todas as iniciativas respeitantes ao Movimento, pelo qual vale realmente a pena trabalhar cada vez mais para servir os povos a que continuamos profundamente ligados apesar de uma emigração que não podemos considerar agradável, nem aceitável. – CONGRATULAMO-NOS com a adesão do H. M. [Hugo de Menezes]. – Esta secção tenciona transferir-se para o Gh. dentro de 2 meses o mais tardar. Tem em curso, pª o efeito, as démarches necessárias. – Temos oportunidade de enviar pª Lª um relatório circunstanciado de toda a nossa actividade, até ao presente. – A nossa boa vontade leva-nos a perguntar se acham vantajoso que um de nós se desloque até aí na primeira quinzena de Setembro, para aprofundarmos todas as questões existentes e tomarmos resoluções pª o futuro. RESPONDAM URGENTEMENTE. Por via particular daremos outras informações respeitantes à nossa situação actual. Esperamos que elas cheguem sem demora ao conhecimento de todos vós. TEMOS EM VISTA (E PARA ISSO INICIÁMOS OS PRIMEIROS PASSOS) UMA CAMPANHA DE CARÁCTER INTERNACIONAL SOBRE AS SUBLEVAÇÕES NA GUINÉ E AS PRISÕES (ATÉ HÁ 2 MESES 120) EM ANGOLA. PENSEM NO ASSUNTO E ACTUEM. Nomes de alguns presos: Ilídio Machado (em Lisboa), Higino Viana de Almeida, Carlos Aniceto Vieira Dias, Gabriel Leitão Pereira, Belo Catuto Fernandes (preso no Funchal sem culpa formada e levado pª Lisboa), DOIS irmãos Benje, um dos quais está paralítico devido aos maus tratos da PIDE, Meireles (casado com uma Mira Godinho). SAUDAÇÕES AMIGAS ass.) V.C. L.L. [Acrescentado à mão por Lúcio Lara: P.S. – A título de informação. O carimbo foi 5 vezes utilizado. All African Peoples Conf. (2), solidarité des Peuples Afro-Asia. (uma) Honour. Life Chairman of Convention Peoples Party (uma) e Ghana’s Ministry of Interior (uma).] [Noutra folha, manuscrito por Viriato da Cruz:] 28.8.59 Caros amigos, Na impossibilidade de a subscrever, declaro estar de acordo com o conteúdo desta carta. V.

Resposta de Lúcio Lara e Viriato da Cruz (Berlim) à acta enviada de Paris

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