Carta de Viriato da Cruz a Lúcio Lara

Cota
0006.000.050
Tipologia
Correspondência
Impressão
Manuscrito
Suporte
Papel comum
Remetente
Viriato da Cruz
Destinatário
Lúcio Lara
Locais
local doc
Rep. Federal da Alemanha
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Acesso
Público

Carta de Viriato da Cruz [manuscrita] Petzow, 27/7/59 Caro Lara, Saúde! Disseram-me que ontem me telefonaste. Não estava aqui nesse momento, mas sim num acampamento de jovens e crianças. Convidaram-me para assistir a uma pequena manifestação ligada à abertura do Festival da juventude em Viena. Hoje, às 18.15h, tentei telefonar-te. Pedi que ligassem para a Ausländer Aufnahmeheim. Até agora estou à espera dessa ligação; e já são 20.45h. Até hoje não voltei a receber notícias de Paris, salvo as cartas do Béhanzin e do Mário, que já te enviei há muitos dias. Mais uma vez, aqueles amigos de Paris deixam-me a impressão que sempre tive deles: só se interessam a sério pelas coisas ligadas ao seu próprio interesse. Fora disso são uns pesos mortos, mais obstáculos que facilidades. Oxalá esteja eu enganado. Não sei se te tens servido da via do Horta, em Liège. Ele está neste momento ausente, em Viena. Se quiseres enviar algo por intermédio de Liège, deves remeter a correspondência para: Dicran Mouradian – Place St. Michel, 10 – Liège (Belgique). – Basta que envies o envelope para o destinatário, devidamente sobrescritado, (e pode já ir fechado; como aliás faço sempre). Não creio que a Ruth [R. Lara] seja capaz de levantar os livros que estão em Frankfurt, porque ela terá (como sucedeu sempre comigo) de mostrar o passaporte. É na verdade uma pena, pois penso que os livros serão reenviados aos expedidores. Não sei, porém, se uma carta-procuração nossa poderá remediar o caso. Talvez fosse conveniente que perguntasses à Ruth se isso é viável. O que farei eu quando terminarem os 3 meses? Ainda não sei. A única porta aberta que vejo neste momento é, mais uma vez, partir para Liège. Daqui (Liège) deverei partir imediatamente para África, pois a validade do meu passaporte termina em 18 de Outubro. Massa para a viagem não a tenho. Solução? Preciso que a malta de Lisboa me empreste 5 mil escudos. Talvez me possas ser útil, mais uma vez, em escrevendo à malta de Lisboa para eles transferirem para o Dicran, até 20 de Setembro, a quantia correspondente a 10.000 francos belgas. O meu trabalho marcha com muitas dificuldades. Não posso ir a Berlim por falta de massa; e em Berlim não encontro todo o material mínimo para que o trabalho obtenha a forma que quero. Acho que os três meses acabarão sem que eu tenha feito a décima parte do que pretendia. – Fiz um vasto trabalho de ficheiro; mas, como podes calcular nem todas as notas que se tiram vêm a ser utilizadas. E o teu caso? Não fizeste nenhuma «démarche», ao menos para que te dêem os livros? E as tuas malas estão ainda na «consigne» da gare? Espero (com uma paciência de corno) que dêem massa no fim deste mês. A ser isso um facto (como acredito), tratarei de te procurar aí em Fürstenwalde. Estou convencido de que me darão autorização para esse fim. Que pensas tu que devamos responder a Accra? Devemos fazê-lo já ou devemos esperar resposta dos outros? Por mim, tanto faz. O meu único problema é ter massa, antes de Outubro, para voltar para África. Lá tratarei, in loco, do resto. Tens recebido jornais? Eu estou absolutamente a zero, pois até o rádio cá da casa não funciona. Esta gente só quer saber de: banhos no lago, banhos de sol, comer, dormir e televisão. Numa palavra: vida vegetativa. O meu melhor abraço ass.) V.

Carta de Viriato da Cruz (Petzow) a Lúcio Lara

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