Carta de Viriato da Cruz a Lúcio Lara

Cota
0006.000.048
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel comum
Remetente
Viriato da Cruz
Destinatário
Lúcio Lara
Locais
local doc
Rep. Federal da Alemanha
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Acesso
Público

Carta de Viriato da Cruz [dactilografada] Petzow, 14 de Julho de 1959 Meu caro Lara, Já devias ter recebido a minha carta de há dias. Estou, porém, sem resposta tua. Convém estarmos amiudadas vezes em contacto, ao menos por escrito. Haverá possibilidade de comunicarmos à Noémia [N. de Sousa] e irmã a resposta de Ghana? Penso que será igualmente importante, ou necessário, obtermos delas os seus respectivos curriculum vitae. A não ser que tu tenhas a possibilidade de os fazer. Não recebi mais nenhuma carta de Paris. E tu? O meu trabalho marcha; mas com dificuldades por vezes um pouco desanimadoras. Mas é preciso fazer alguma coisa. Faltam-me sobretudo fontes documentais. Até este momento, não consegui encontrar uma história de Angola. Como suponho que ainda não recebeste os teus livros, não vejo como sair, tão brevemente quanto possível, deste impasse. No caso de recobrares os teus livros, agradeço não te esqueceres de me enviar (se até lá não nos virmos pessoalmente) os que te pedi, bem como as histórias de Angola de Ralph Delgado e de Alberto Lemos. Julgo que amanhã ou depois deva receber parte do «subsídio» referente a este mês. E então tratarei de te ver imediatamente. Por favor, não vejas na minha ausência pessoal nenhum gesto reprovável, conscientemente ou voluntariamente praticado por mim. Recebi hoje carta da Bouvier [Irmgard B.]. Carta cordial e amistosa. Depois que estive contigo da última vez, escrevi-lhes, a ela, à filha e ao filho. A estes dois mandei-lhes bonitos cartões de lraque. Ficaram radiantes. Informa-me a Bouvier que no dia 3 foi lido o meu escrito sobre literatura. A Ruth [R. Lara] ouviu. Desconfio, porém, pelo tom com que a Bouvier fala, que houve cortes. Natural esta gente, que tem a mania de «impingir» as suas ideias mesmo sobre coisas que mal conhecem. Como tenho a receber ainda quarenta «mangussos», vou renovar, junto da Bouvier, o meu pedido de entregar essa massa à Ruth. Sobre isto, penso escrever toda esta semana. Talvez seja conveniente escrever-me, [acrescentado à mão: sempre que possível], por carta fechada e não por cartão postal. Estou agora a ler os 3 volumes com os «Documentos sobre a expansão portuguesa», de Vitorino Magalhães Godinho. O livro é útil; mas como o próprio autor informa, ainda não foi feita e ainda é quase impossível construir uma teoria sobre a expansão portuguesa, porque muita documentação está por publicar. Evidentemente que esse não é o meu propósito. Como sabes, quero tentar uma interpretação de alguns aspectos da colonização portuguesa, principalmente dos que ainda actuam no nosso país. Quero escrever algo de polémico, de político, de interessado – o que não quer dizer parcial e «habilidoso». Ainda não recebi resposta do Vietnam. Tens mantido contacto com o Meneses [Hugo de M.]? Temo que este amigo comece a agir por conta própria, num hábito da malta. Pode ser que ele tenha boas intenções. Mas só isto não basta, pois incide-se na acção individual e descura-se de dar corpo a uma personalidade colectiva. E como sabemos, esta é que mais conta para a projecção dos nossos desejos e dos nossos actos no plano internacional. Por favor, não te esqueças de lhe frisar isto, e da melhor maneira que puderes. Informaram-me hoje de Moscou (uma amiga)1 que está para sair, brevemente, ali, uma antologia da poesia africana. Gostava que saísse algo do Mário António. Tens aí o livro dele? Se escreveres ao Mário de Andrade, agradeço lhe digas a conveniência de se enviar a Moscou, aos encarregados da feitura da antologia, do livro do M. António. E isto com a urgência a que a malta de Paris não está muito habituada. Tens aí aquela brochura com os poemas do Neto? O que achas se eu ou tu enviarmos daqui uma cópia desses poemas a Moscou? Mais do que nunca estou longe do dia a dia em África. Nada do «Le Monde». Oiço aqui às vezes Paris. Mas são notícias oficiais, curtas e mentirosas. Pouco adiantam. Oiço às 17h15 e às 18h15. Hoje vou tentar ouvir, pela primeira vez, Lisboa, às 20h. [Acrescentado à mão: (Não ouvi Lxª)] Já recebeste «O Comércio» e o «ABC», digo, os recortes destes jornais? Quando escreveres à Ruth, dá-lhe, por favor, os meus cumprimentos; e lembra-me ao Paulinho. Penso ver-te dentro de dias. Logo que possa agirei rapidamente nesse sentido. O meu melhor abraço ass.) V. P.S. – O que precisas? Queres alguma coisa de Berlim?

Carta de Viriato da Cruz (Petzow) a Lúcio Lara

A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

Nomes referenciados