Carta de Marcelino dos Santos a Lúcio Lara

Cota
0006.000.022
Tipologia
Correspondência
Impressão
Manuscrito
Suporte
Papel comum
Remetente
Marcelino dos Santos
Destinatário
Lúcio Lara
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
4
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Acesso
Público

Carta de Marcelino dos Santos
[manuscrita]

Sábado [Maio de 1959]

Caro Lúcio

De acordo com o que combinámos em Roma, conversámos aqui em Paris, ontem, sem o Mário – porque ainda em Itália – mas com o Amílcar que recebeu o bilhete do Viriato e dentro em breve estará convosco.
Mais uma vez, como frisáramos em Roma, sentimos a necessidade de apresentarmos reivindicações cada vez mais concretas. [Sublinhado por V. Cruz com comentário à margem: Até quando?]
Em efeito após Accra1 – e da intervenção da U.P. de Angola – urge que nos apresentemos nas Instâncias Internacionais com um programa de reivindicações o mais perto possível da realidade, e sobretudo sem contradizer as organizações responsáveis nos nossos países. [Comentário de V. Cruz, à margem: Emulação. E por que não União e luta unida?]
Foi pensando assim, que conversámos sobre as reivindicações a apresentar.
O nosso objectivo é a Independência Nacional. Mas para isso, podemos:
– Reivindicar a Independência imediata
– Ou propor etapas tais que a tutela das Nações Unidas, ou simplesmente a reivindicação de uma série de direitos democráticos e o envio de observadores da O.N.U. como garantia. [Comentário de V. Cruz, à margem: Insegurança]
Procurando ver claro, consideramos que:
– a situação colonial hoje é absurda
– a independência é a condição necessária do progresso dos nossos países
– é necessário impor o Respeito da Carta dos Direitos do Homo (sic)
– o envio de colonos para os nossos países tem o fim de manter o colonialismo
– nos nossos países já independentes os estrangeiros poderão viver à condição de respeitarem as leis em vigor
e propomos as reivindicações seguintes:
– Reconhecimento do direito dos povos das colónias portuguesas a disporem de si mesmos, incluindo o direito à independência [Comentário de V. Cruz, à margem: Isso não se reivindica. Esse direito é o efeito de uma luta concreta]
– Abolição do estatuto do indígena [Comentário de V. Cruz, à margem: Por requerimento?]
– Direito de voto para todos sem discriminação
– Criação de assembleias próprias para cada país com representantes africanos eleitos pelo sufrágio universal
– Acesso dos africanos aos cargos de administração e de direcção dos interesses do país
– Liberdade de criação de organizações políticas, liberdade de reunião, liberdade de imprensa
– Révision des lois qui ont permis l'installation abusive de colonats européens sur les meilleures terres.2
– Cessação do envio de colonos para os nossos países
e afirmamos como o fez a Conferência de Accra que:
«Qualquer povo é capaz de se governar seja qual for o seu estade [sic] de evolução política e social».
Eis o que temos a dizer-vos. Como vêem talvez nada de novo haja, a não ser a necessidade de uma aproximação maior com as organizações dos nossos países que permita determinar – e discutir com elas se possível – o programa de reivindicações concretas.
O Amílcar falará convosco, e embora saibamos que ele chegará após o envio da exposição para a Guiné, será bom discutir estes pontos com ele sobretudo para precisar os pontos.
Devemos notar que reivindicações de ordem social e cultural, tais como estão enumeradas no nº da Démocratie Nouvelle, são boas.
Espero que já tenham recebido o nº do Osservatore Romano.
Saudades para todos vós. Beijos à Ruth e ao Miúdo, da Andrée e de mim. Um chocho ao Viriato.
Abraços do
Marcel3

Carta de Marcelino dos Santos a Lúcio Lara

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