Carta de Hugo Menezes a Lúcio Lara

Cota
0006.000.008
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel comum
Remetente
Hugo de Menezes
Destinatário
Lúcio Lara
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Acesso
Público

Carta de Hugo de Menezes
[dactilografada]1

Londres, 14/5/59
Caro Lúcio Lara,

Lamento só hoje poder responder à sua carta ontem recebida. Aguardava, porém, que se efectuasse a reunião dos membros do «Committee of African Organisations», que deliberou adiar as Conversações para Julho próximo. Se for do seu agrado o contacto directo, poderá escrever para o referido Committee, 200, Gower Street, London NW1. Constituído há poucos meses, engloba todas as Associações Académicas de Africanos aqui existentes (entre 15 a 20 mil estudantes). Os seus fins são na realidade políticos, e tem fortes conexões com os Movimentos Políticos Africanos. O cérebro desta organização, Dennis Phombea, é fortemente progressista.
Através do Committee temos abertas as portas de certos sectores da imprensa. Estou a preparar um modesto trabalho em que tenho a pretensão de dar uma ideia da situação dos africanos em Angola e Moçambique, em especial no que se refere a «indígenas». Contudo, faltam-me o vosso apoio e certos dados concretos, como sejam o Orçamento de Angola e Moçambique, verba votada para a Educação dos «indígenas» (através das Missões), salário médio do trabalhador, número de assimilados, número de mestiços, etc. Poderá você fornecê-los? Quando completo, enviar-Ihe-ei uma prova e aguardarei o seu parecer sobre o mesmo, para posterior publicação em Português (e Brasileiro...), Francês, Inglês e Swaili, em separata. A ignorância dos mais esclarecidos africanos aqui existentes é grande (sobre os nossos problemas). Terá utilidade um trabalho desta natureza? Que pensa você sobre a eficácia ou contribuição (desinteressada, do ponto de vista pessoal) do trabalho exterior, na resolução dos problemas das nossas terras? Temos possibilidade de agitar o problema da mão de obra (em especial) no Parlamento Britânico e nas Nações Unidas, por intermédio de um deputado Bevanista, que para tal se ofereceu.
Gostaria de conhecer o seu ponto de vista a propósito de todas estas questões; entendo que os nossos actos devem ser harmónicos e concorrentes. Tem notícias frescas de Portugal? Soube, há dias, pelos jornais, da prisão de um líder «liberal» de Moçambique, António de Figueiredo, e soube também que alguns outros, de Moçambique e Angola, procuraram asilo na Alemanha. É pois natural que os correios, em Portugal, dediquem uma atenção muito especial à correspondência que vai ou vem daí. Eu comunico com Lisboa por código, que tem todo o aspecto de um passatempo ou charada amorosa.
Aceite os meus cumprimentos.
ass.) HM

P.S. Espero que o seu futuro contacto com o Committee ou indirectamente comigo o esclarecerá quanto às questões por si postas na carta, referentes às Conversações. Brevemente deixarei Londres, pois quero ir para a Guiné (independente), talvez dentro de um ou dois meses.

Carta de Hugo Menezes a Lúcio Lara

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