Carta de António Sérgio de Sousa ao Senhor Ministro do Ultramar, sobre Goa

Cota
0002.000.021
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Remetente
António Sérgio de Sousa
Destinatário
Ministro do Ultramar
Data
Idioma
Conservação
Razoável
Imagens
4
Acesso
Público
CÓPIA I SENHOR MINISTRO DO ULTRAMAR Excelência: Num discurso agora pronunciado sobre o problema indiano, de que há pouco tive notícias por um jornal da manhã, declarou V. Exª. que o Governo “presta a maior atenção a todas as sugestões construtivas e colaborações que lhe sejam oferecidas”. O conhecimento destes seus dizeres, acrescentando-se ao facto de havermos tido outrora relações pessoais que para mim foram gratas, embora brevíssimas, e aos muitos laços que prendem à India, e à sua historia antiga e recente, a minha pessoa e a minha família, - alentam-me a submeter-lhe as sugestões desta carta, que suponho radicalmente construtivas, com a modéstia e a simplicidade que me competem, e seguro de que no espirito de V. Exª. poderá mais a razão que a teimosia, levado-o a encarar as minhas pobres palavras com a isenção e a objectividade que as circunstâncias exigem. Sem dúvida, devemos repelir a tirânica ideia de se sentir o Governo de determinado país no direito de exigir populações e territórios que fazem parte de qualquer outro Estado. Não aos políticos de Nova Deli, mas aos próprios habitantes da nossa Índia, compete cuidar dos destinos destes. Não é menos certo, todavia, que uns quinze anos antes de haver nascido o novo Estado do Industão, aos erros do regime actual português (“anti-liberal e anti-democrata”, como se gabou de ser) tinham criado os germes do presente conflito, provocando em almas de Indo-portugueses atitudes de ressentimento e de revolta que, sendo a princípio só contra o regime, se agravaram por culpa do nosso Governo e se tornaram em hostilidade contra o próprio Estado, contra a própria soberania de Portugal. E depois o Governo da India independente, nascido (repito) uns quinze anos mais tarde, tratou de se aproveitar de um conflito existente para reforçar os seus objectivos de anexação. Em 1931 (e só há Estado do Hindustão desde 1947) o então Governador da nossa India, o general Joao Carlos Craveiro Lopes, pai do actual Presidente da república, tratou de prevenir o nosso Governo acerca das consequências que naturalmente adviriam dos ressentimentos ali suscitados pelo Acto Colonial e pelas discriminações raciais, contrárias a toda a tradição portuguesa, desde os tempos de Albuquerque até os da república, e inspiradas nas doutrinas de onde saiu o nazismo.

Carta de António Sérgio de Sousa ao Senhor Ministro do Ultramar, sobre Goa

A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.