«Quero conhecer-te, África!»

Cota
0002.000.017
Tipologia
Texto Literário
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel comum
Data
1954
Idioma
Conservação
Mau
Imagens
1
Acesso
Público
QUERO CONHECER-TE, ÁFRICA! Eu quero conhecer-te melhor, minha África profunda e imortal… Quero descobrir-te para além do mero e estafado azul do teu céu transparente e tropical, para além dos lugares comuns com que te disfraçam aqueles que não te amam e em ti veem aenas um degrau a mais para escalar! De norte a sul, de oriente a ocidente, — quero conhecer-te bem, sem nada de insincero, de superficial, a velar-te o corpo possante de virgem negra. Quero conhecer-te melhor que ninguém, minha África silhueta contra a noite enfeitiçada de lua e de espíritos vingadores… E quero mais! Quero que meus terríveis gritos de dor sejam os gritos repetidos dos meus irmãos… Que eu quero dar-te e dar-lhes todo o meu amor, toda a minha vida, o meu sangue, a minha alma, os versos que escrevo a sofrer e a cantar… Só contigo e com meus irmãos quero lutar por uma vida digna, livre, alevantada. Sim, quero lutar em ti integrada, confundindo as almas, lado a lado, rimando nossos esforços e suores, sentindo o eco de cada brado das nossas bocas, reboar por esse sertão fora, longamente, dolorosamente… E que alguém, perdido lá longe, o recolha e diga: — Mas é esta a minha voz, esta dor, é meu também este brado! Quero compreender-te, minha África, quero penetrar-te, sonhar contigo, descobrir-te nua e verdadeira, sofrer os teus desalentos, esperar contigo, sempre contigo! porque só assim merecerei viver…

«Quero conhecer-te, África!»

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