«Keita Fodeba e o seu teatro africano»

Cota
0002.000.015
Tipologia
Texto de Análise
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel comum
Autor
Mário Pinto de Andrade (?)
Data
1954
Idioma
Conservação
Razoável
Imagens
2
Observações

Tem correcções manuscritas de Mário de Andrade. O documento 0002.000.016 vinha agrafado a este documento.

Acesso
Público

“Keita Fodeba - e o seu teatro africano”

    Keita Fodeba figura hoje ao lado dos maiores poetas negros de língua francesa. É até uma voz complementar dos que exprimem a négritude, no que este termo possui de força emotiva e evoca uma alienação bem particular - a colonial.
    Um novo “griet”, isto é, trovador africano, integrado nos problemas da hora actual, transcrevendo para francês toda a variedade estilística do folclore africano.
    Não se pretende analisar nestas breves notas a poesia de Keita Fodeba, poesia menos para ser lida do que para ser ouvida no seu ambiente próprio ao som dos mais variados instrumentos musicais que a acompanham.
    Nasceu Keita Fodeba em Siguiri (Guiné Francesa) no ano de 1921. Professor primário em 1943, primeiramente ensinou o seu país de origem, depois em S. Luís do Senegal onde criou a troupe “O Teatro Africano” que durante as férias executava através de todo o Senegal, grandes turnês teatrais. Após 5 anos de serviço no ensino e de numerosas emissões na Radio-Dakar sob o título de “Contos e Lendas da África” partiu para França em 1948 e aí reconstituiu o seu Teatro Africano. A troupe - conjunto de músicos, cantores, dançarinos, declamadores - constituída por jovens Senegaleses, Congoleses, Guineenses, e Sudaneses, tem visado essencialmente recriar o fundo das tradições orais da África Negra.
    A França, a Suíça, as cidades e aldeias da Alemanha, a cidade de Praga, a Europa Central, já saudaram o Teatro Africano de Keita Fodeba.

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(1)    - Poèmes Africains - Pierre Seghers, Éditeurs Poesie 50.

    Quem assiste uma vez a um espectáculo (2) de Keita Fodeba a exprimir-se nestes termos:
    “(...) Porque a raça que Keita Fodeba e os seus companheiros representam, vivo ao máximo, todo o seu espectáculo, é duma beleza extraordinária. Não falamos somente da música que é ritmo e vida, alma dum povo que canta e dança como respira e que tem, naturalmente, a singeleza toda poderosa dos grandes. Mas em todo o espírito desta arte em que homens altivos de imponência e de feições e belas raparigas se movem como peixes na água, tudo é pretexto para ballet - alegria, tristeza, lamentação ou cerimónia - mas ballet que se organiza espontaneamente e recebe por encanto uma ordem superior e natural.”
    “É a África inteira, a alma delicada e fresca dum povo maravilhosamente elegante nos seus gestos e nos seus passos em que o corpo possui ainda essa ligeireza de linhas, em que toda a música é ritmo e toda a palavra resulta melodia.”
    “Graças a Keita Fodeba, e aos seus amigos, temos a revelação da vida infinitamente pungente e bela da profunda e misteriosa África que numa noite nos dá, através das danças, dos seus cantos e dos poemas, pela escolha maravilhosamente segura das cores, dos trajes, graças à elegância inimitável dos jovens, uma ideia da perfeição e da originalidade indiscutível da sua cultura.”

    O “Mestre-Escola”(3) que apresentamos em primeira versão portuguesa, é um “sketch” de repertório da troupe. A figura de professor é interpretada pelo próprio autor - Keita Fodeba.

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(2)    “Impartial” à La Chaux de Fonds, Suisse. In “Le Theatre African de Keita Fodeba.” Pierre Seghers, Edit.
(3)     Le Maitre d’Ecole suivi de Minuit. K. F. Pierre Seghers Edit. 1952

«Keita Fodeba e o seu teatro africano». Faz parte de documentos da «Celebração em Lisboa da Jornada - 21 de Fevereiro 1954»

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