Carta de Agostinho Neto a Holden Roberto

Cota
0037.000.008
Tipologia
Correspondência
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Remetente
Agostinho Neto - Presidente de Honra do MPLA
Destinatário
Holden Roberto
local doc
Léopoldville (Rep. Congo)
Data
Idioma
Conservação
Razoável
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»

Acesso
Público


Léopoldville, 8 de Agosto de 1962

Sr. Holden Roberto
Presidente da União das Populações de Angola
Léopoldville
Senhor:
Na qualidade de dirigente do Movimento Popular de Libertação de Angola, sinceramente­ interessado na luta patriótica do Povo pela sua Libertação do jugo ­colonial português, ansioso, e preocupado com as dificuldades que têm obstado ao alargamento da luta popular e ao desenvolvimento do espírito de fraternidade entre todos os angolanos­ sem distinções, venho pôr à consideração de Vossa Excelência o seguinte:
É elementar e imprescindível que as forças nacionalistas se congreguem numa frente político-militar a opor à acção criminosa do governo colonial-fascista português. Esta necessidade opõe-se, imediatamente, à persistência do divisionismo dentro das fileiras nacionalistas e considero que as atitudes tomadas, por quem quer que seja, tendentes a manter o fraccionamento dessas forças, quer no campo político, quer no terreno militar, são a melhor ajuda dada ao colonialismo português, contra os interesses do povo angolano, e não coincidem com os superiores objectivos da luta de libertação.
A desorientação a que foram conduzidas as massas populares, quer no interior do País, quer no estrangeiro, por ideias entre elas disseminadas, contrárias ao espírito da unidade nacional, é uma consequência lógica do divisionismo; e esse horroroso espectáculo de inconsciência política não pode senão dificultar a luta do Povo pela libertação nacional e favorecer os objectivos imorais do governo colonial-fascista português.
Quando elementos da população angolana, fugidos à ferocidade dos colonos ­portugueses, se dirigem para o Congo, e são presos, seviciados ou mesmo exterminados por outros angolanos, seja qual for o pretexto; isto é um crime, isto é traição contra os fins da Revolução Angolana, isto é colaboração com o ocupante.
Quando as equipas de assistência médico-social em missão de auxílio às populações desamparadas são perseguidas ou agredidas por angolanos atiçados pelo aguilhão do racismo, do sectarismo, do tribalismo, impedindo assim que os angolanos necessitados tenham socorro devido; isto é crime, é desumanidade, é colaboração com a repressão dos colonialistas portugueses.
Permiti-me registar aqui alguns factos que hoje acontecem entre nós, sem desejar acusar quem quer que seja, é apenas para concluir que é urgente uma acção enérgica dos dirigentes políticos, para evitar repercussões catastróficas no seio das massas populares; e mais: para concluir que as querelas e questiúnculas entre os Movimentos não podem nem devem impedir a solução conveniente do problema nacional, que é superior aos problemas particulares dos agrupamentos políticos.
Os verdadeiros patriotas, aqueles que se encontram nos Movimentos ­nacionalistas desejosos sinceramente da Libertação do País; aqueles que sentem o sofrimento do Povo, a sua angústia; aqueles que dentro de Angola, sentiram na sua carne os vexames e os espancamentos, as humilhações e ­torturas; os que combateram; aqueles que estão apreensivos pela sorte de seus pais, esposas e maridos, irmãos ou amigos, que se encontram no interior do País, à mercê dos facínoras colonialistas, esses que sentem Angola no seu coração, esses que se sentem Povo de Angola; estão exigindo, nesta hora grave, que a vergonhosa situação em que nos achamos cesse sem demora.
Por isso, e para tentarmos remover as dificuldades que entravam incompreensivel­mente a colaboração de todas as forças nacionalistas num Movimento único – e ­independentemente de outras diligências que estejam a ser feitas – convido Vossa ­Excelência para uma conferência à qual poderíamos participar apenas os dois ou, se o desejar, também outros políticos angolanos. Estou certo de que deste encontro poderia resultar um benefício para a Causa Angolana.
Proponho que a conferência se realize no próximo dia 12 de Agosto próximo, pelas 10 horas, no Bar Buvette, Avenue Cabinda, nº 147, nesta cidade. Mas se Vossa Excelência preferir, poderá indicar outro local e data.
Aceite, Caro Senhor, as minhas cordiais saudações.

AGOSTINHO NETO
Presidente de Honra do MPLA

BP: 720
Léopoldville

Carta de Agostinho Neto a Holden Roberto. Foi publicada no Vitória ou Morte de 25.08.62 (Léopoldville)

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