Relatório de José Mendes de Carvalho

 [Acrescentado por L. Lara: “01.Dez.61 – Carta de José Mendes de Carvalho1, chefe do primeiro grupo de combatentes angolanos fugidos de Angola via Congo Brazzaville e que vieram fazer o 1º treino do Ghana”] [R: 4.1.62] A nossa chegada ao Instituto Dr. Kwamne Krumah [sic] no dia 23 de Novembro foi acolhida com grande alegria da parte dos nossos camaradas de vários pontos de África sobretudo da Guiné de “Djassi” [Amílcar Cabral]. Ficou-nos bem assente o espírito patriótico, o africanismo que tem sido animada a convivência destes nossos irmãos; viu-se brotar a ansiedade de outros africanos quererem ver os filhos da tão martirizada Angola numa plataforma em que poderão quebrar eternamente as garras coloniais, em que poderão construir mais um pilar donde içar a liberdade africana. Igualmente numa entrevista com um dos membros do corpo principal do Instituto após uma exposição sobre a situação angolana, a posição do MPLA face à organização de uma frente político-militar, exprimimos os nossos agradecimentos à ajuda sincera do povo ganeano e aos laços familiares que parecem solidificar-se, relativamente aos nossos dirigentes, à nossa Organização. Tivemos ocasião de assistir a um baile de despedida a um grupo de estagiários ­ganeanos em Administração política. Enquanto esperávamos que nos fizessem chegar ao destino, aprendemos várias canções patrióticas da Guiné em honra a Abel Djassi e à luta africana bem assim como composições ganeanas consagradas ao imortal Patrice Lumumba, à vitória ­africana e a Osagyefo. Por nosso lado apresentámos também entre outras uma evocando o ­sofrimento angolano e outra que encerra o ardor à luta angolana com um coro de “Viva, Viva Mário de Andrade.” Alguns dos nossos camaradas da Guiné num encontro com o nosso comité composto de 4 membros, Mendes, Casimiro, Custódio e Menezes com o conselheiro tiveram ocasião de ouvir e ao mesmo tempo corresponderem a um traço de união das nossas amizades e esforços hoje e num amanhã dos nossos territórios. Excepto algumas doenças sem gravidade que nos chegam, o comportamento da malta embora não seja óptimo é bom. Sempre que tiver oportunidade oferecer-lhe-ei informações nesse sentido. Por hoje é tudo quanto posso incluir neste relatório semanal. Winneba, 1 de Dezembro de 1961 [assinatura de José Mendes de Carvalho]