Apelo da CONCP para a libertação de Agostinho Neto

Cota
0027.000.017
Tipologia
Apelo
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Autor
CONCP - Conderência das organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas
Locais
Data
Idioma
Conservação
Razoável
Imagens
1
Observações

Foi publicado no 2º volume de «Um amplo movimento…»

Acesso
Público


CONFERÊNCIA DAS ORGANIZAÇÕES NACIONALISTAS
DAS COLÓNIAS PORTUGUESAS
(CONCP)
6, Rue Paul Tirard – RABAT (Marrocos)

APELO
AGOSTINHO NETO, POETA E COMBATENTE

A 26 de Setembro último, o Governador de Cabo Verde mandou prender, na ilha de SANTIAGO o Dr. AGOSTINHO NETO, presidente de honra do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que tinha sido deportado para essa colónia desde Setembro de 1960.
O Dr. NETO foi imediatamente levado pela PIDE – a GESTAPO portuguesa – para Lisboa e encarcerado na prisão de Aljube.
Segundo a polícia colonial, o Dr. Agostinho NETO teria mostrado aos seus amigos uma foto representando soldados portugueses à volta da cabeça de um nacionalista angolano espetada na ponta de uma lança.
Naturalmente, o pretexto invocado não passa de provocação. Porque essas imagens autênticas dos crimes perpetrados pelo exército português acabam de ser afixadas na sala da Comissão de Tutela da ONU. Por outro lado, a foto em questão foi publicada pela imprensa, em particular pelo jornal belga “LA GAUCHE”, pelo jornal tunisino “AFRIQUE ACTION”, pelo jornal marroquino “AT-TAHLIA”, etc...
Na verdade, prendendo mais uma vez o Dr. NETO, o que o poder colonial-fascista de Salazar quer aniquilar é toda uma vida de coragem patriótica e de abnegação pela causa da Independência de Angola.
De facto, o Dr. AGOSTINHO NETO está entre os primeiros intelectuais ­angolanos que em Lisboa, no coração da capital portuguesa, empreendem a tarefa de aprofundar a sua consciência nacional através da crítica da situação colonial, ­participando no ­movimento progressista mundial.
Foi preso pela PIDE uma primeira vez em 1952 mas libertado pouco tempo depois.
Acusado de actividades subversivas contra o poder colonial-fascista de Salazar, foi preso outra vez em 1955. Escritores e artistas universalmente conhecidos, entre os quais os franceses François MAURIAC, Louis ARAGON, Georges DUHAMEL, Jean-Paul SARTRE, Edouard PIGNON, Simone de BEAUVOIR, o poeta cubano Nicolás GUILLEN, o pintor mexicano Diego de RIVERA, o grego André KEDROS, ergueram então os seus protestos e exigiram a sua libertação.
Julgado e condenado à privação dos direitos políticos durante cinco anos e a seis meses de prisão (cobertos pela sua prisão preventiva), NETO sai enfim da prisão em Junho de 1957.
Pôde então terminar os seus estudos de medicina.
De volta a Angola em Dezembro de 1959, o Dr. Agostinho NETO prossegue a acção política e distingue-se como líder do MPLA. Mas a sua acção nacionalista leva-o a ser preso uma vez mais a 9 de Junho de 1960, pelo Director da PIDE em pessoa, no seu consultório em Luanda. É de imediato levado para uma prisão política em Lisboa.
Em Setembro de 1960, na sequência de numerosos protestos de organizações democráticas do mundo inteiro, Agostinho NETO, acompanhado da mulher e dos filhos, é deportado para as ilhas de Cabo Verde, onde é colocado sob residência vigiada.
Esses são os factos.
Hoje, AGOSTINHO NETO, poeta e combatente da liberdade, está de novo encarcerado na prisão de Aljube em Lisboa. Todos os que conhecem a dura realidade das prisões portuguesas sabem quão séria é a ameaça de morte que pesa sobre este valente patriota.
É preciso impedir o assassinato de NETO, é preciso arrancá-lo da prisão!
O SECRETARIADO PERMANENTE da Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas lança um apelo premente a todos os Governos amantes da paz, da liberdade e da justiça, a todos os povos e às suas organizações políticas, culturais, etc., para que intervenham sem tardar, a fim de exigir que o Dr. NETO, líder do povo angolano, seja imediatamente libertado e possa escolher o seu local de residência.
É preciso arrancar o Dr. NETO das prisões do poder colonial-fascista de Salazar!
Rabat, 15 de Novembro de 1961
SECRETARIADO PERMANENTE
da CONCP

Apelo da CONCP para a libertação de Agostinho Neto (Rabat)

A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.

Nomes referenciados