Comunicado da UPA sobre o 3 de Agosto

Cota
0014.000.055
Tipologia
Comunicado
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Autor
UPA - União das Populações de Angola
local doc
Léopoldville (Rep. Congo)
Data
Idioma
Conservação
Mau
Imagens
4
Observações

Com carimbo da UPA. Este documento tem muitos erros. Alguma ortografia foi corrigida na transcrição.

Acesso
Público

UNIÃO DAS POPULAÇÕES DE ANGOLA
"U.P.A."
Comissão Central
LEOPOLDVILLE
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3 de Agosto de 1960.

Angolanos,
Angolanas:
    No dia 3 de Agosto de 1960, neste Território irmão e Independente do Congo, nós queremos com fé testemunhar a República a República do Congo, a satisfação e orgulho que inundam a nossa alma, após a memorável data de 30 de Junho de 1960 e ao mesmo tempo demonstrar ao colonialismo português a nossa radical decisão em arrancar, custa o que custar, a plena soberania da nossa pátria.
    Aluta do povo congolês, a peleja obstinada dos patriotas congolêses e a sua gloriosa vitória são exemplos que devemos seguir.
    O archote da liberdade que brandiram nos seus braços robustos e tenazes jamais o deixaremos cair.
    Há muito tempo que nos apoderamos dele e estamos prontos a expulsar do nosso território, mesmo a lembrança da opressão portuguesa.
    Cidadãos, a Administração Política da União das Populações de Angola "U.P.A.", pede-vos para estreitar as vossas fileiras, de vos armades, para que todos os povos, digo, os nossos inimigos, para que todos inimigos da nossa pátria saibam que é chegado o momento da verdade, que chegou o dia do povo angolano, que soou para nós a hora da liberdade, visto ela já se encontrar à nossa porta.
    Hoje, 3 de Agosto de 1960, nos pontos mais longínquos da África os povos do nosso Continente manifestaram a sua solidariedade aos cidadãos africanos dominados pela opressão portuguesa. Os cidadãos de Moçambique, da Guiné, dita portuguesa, das Ilhas de S. Tomé, Cabo Verde e os de Angola agradecem com emoção essas manifestações de solidariedade impressionante.
    Hoje, 3 de Agosto, a vontade unânime dos africanos se converge sobre nós e nos conjura a quebrar a opressão estrangeira e de nos encaminhar com passo decidido para o caminho da libertação. Os cidadãos de Angola, por sua vez, neste dia memorável, confiram solenemente porem-se à frente dos acontecimentos e juram impôr ao colonialismo português uma retirada geral.
    Na Tunísia, o "Néo-Destour", sob a conduta esclarecida do Presidente Bourguiba, significam-nos claramente que o povo da República Tunisiense fez sua a luta do povo angolano. Na Guiné, em Marrocos, em Ghana, na Lybia, na República Árabe-Unida, na Argélia, no Sudão e na Ethiopia, não há povo que não esteja ao nosso lado, não há Governo que não tenha dado aos nossos Representantes a segurança formal, que não nos dê um apoio incondicional.
    Com efeito, perante esta unanimidade africana, ante este convite total que nos é feito de acabar com o imperialismo português, nós angolanos diremos que não desfaleceremos em nada do que nos diz respeito à nossa tarefa e que a grande lepra colonialista será arrasada pela raiz do território nacional.
    A União das Populações de Angola "U.P.A." em muitas ocasiões deu a conhecer o seu programa:
        Independência Nacional;
        Reagrupamento de todas as forças anti-colonialistas; e
        Promoção duma República Democrática.
    Reforma agrária: - a terra pertence àquele que a cultiva;
        Respeito à liberdade religiosa;
        Respeito das liberdades sindicais.
    Promoção dum regime democrático, melhoramento do nível de vida, ensino geral e todas as classes populacionais, desenvolvimento económico e sobretudo a UNIDADE AFRICANA e colaboração internacional.
    Repetimos mais uma vez que este programa será realizado, graças à participação efectiva e generosa do nosso Povo.
    Compatriotas,
    O colonialismo português que se supõe existir através da história, não cessa de proclamar que nada o fará mudar a sua política em Angola.
    Depois dos opressores portugueses saberem que os povos africanos desejam desembaraçar-se do jugo colonialista, eles encaminham para a Africa seus canhões, seus navios de guerra, seus aviões e seus soldadinhos. Dia nenhum há ou em nenhum porto de Africa, dito portuguesa, que não chegam novos reforços, novos instrumentos de dominação. Esta resposta do governo português à vontade dos povos africanos assinala ainda mais as responsabilidades: Como a Organização Geral da União das Populações de Angola não deixou de multiplicar os apelos pacíficos ao Governo de Portugal convidando-o a estudar connosco o fim normal do regime colonial e a determinação de novas relações, que não sejam mais do senhor escravo, mas sim, de homem para homem; o governo do senho Salazar enviou para nossa terra novas baionetes e novos meios para destruição. Assim, este dia dia 3 de Agosto, em que a Africa nos observa, digamos nós ao governo português que já é passado o tempo em que duas companhias de soldados faziam tremer-nos. Nenhuma força do mundo pode hoje pensar fazer-nos recuar visto estarmos fortes pela solidariedade indestrutível dos povos africanos. estamos fortes pela nossa vontade comum, homens e mulheres de Angola, e é a começar por estes elementos que os acontecimentos se vão solucionar dentro dos próximos meses.
    Nós não dizemos ao colono: "tu és um estrangeiro, vai-te embora".
    Não dizemos, vamos tomar a direcção do país e fazer-te pagar dos teus crimes, bem assim dos teus antepassados.
    Nós não dizemos que ao ódio passado do negro, opomos ao ódio presente e futuro do branco. Dizemos: Somos angolanos, banimos da nossa terra todo o racismo, toda a forma de opressão, de injustiça e de obscuridade; trabalhamos para o engrandecimento do homem e para riqueza da humanidade. O colono responde-nos e o governo português apoia: - Angola é um pedaço querido de Portugal. Decorrido um ano, o colonialismo português multiplica as prisões e as deportações;
    Os nossos compatriotas estão sujeitos à espécie de suplícios e torturas que a natureza humana pode imaginar. Foi assim que o patriota Alfredo Benge ficou mudo e paralítico.
    Há seis meses que um processo hediondo foi organizado contra os patriotas de Angola. Esse processo foi imediatamente adiado por causa da agitação da opinião internacional.
    Os colonialistas portugueses viram-se obrigados a encerrar esse processo a oito chaves. Semelhante resultado não seria possível se não fosse a reprovação unânime que seguiu a denúncia desse processo. Todas as Organizações Democráticas enviaram mensagens ao governo português convidando-o a mudar a sua política e dar direito às legítimas aspirações do povo angolano. Esta manifestação de solidariedade com nacionalistas angolanos, situa na mesma linha espiritual como a condenação da Organização das Nações Unidas à política colonialista de Portugal.
    Sabeis com efeito, compatriotas, que quando a décima-quarta sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, à qual assistiu um dos nossos, as pretensões de Portugal em considerar as Colonias como partes integrantes do Território Português foram rejeitadas por unanimidade. Uma das decisões mais preciosas do Grupo Afro-Asiático, na O.N.U., foi de impor no decorrer da última conferência um debate onde o colonialismo português foi denunciado duma maneira flagrante à vista da opinião internacional. Em seguida a esse debate, uma comissão de seis países membros foi designada a estudar a situação dos territórios autónomos em conformidade com os princípios da Carta do Estado das Nações Unidas.

    Compatriotas,
    Hoje, a emoção dos nossos sentimentos deve dirigir-se aos nossos irmãos que sofrem dolorosamente nas prisões do colonialismo português. Devemos pensar profundamente na triste situação das nossas irmãs que desde os dez anos estão sujeitas a trabalhos forçados que lhes são impostos e entreguem, sem defesa, à vontade dos colonos e dos soldados portugueses. Devemos pensar nos nossos irmãos, obrigados a trabalhar fora da sua terra natal e que vivem amarrados nas prisões para que a Pátria viva. 
    Em nome desses, pedimos para que cada um de nós observe por sua intenção um minuto de recolhimento.
    Sabe-se também que o colonialismo português voltará atrás se não encontrar à sua frente homens decididos. Por isso, vos pedimos fazerem connosco o juramento para que a nossa vida pessoal, as nossas esperanças pessoais, os nossos desejos pessoais se calem em pleno dia para ceder lugar à nossa vontade comum de varrer a dominação portuguesa do território nacional.
    A partir de hoje, dia 3 de Agosto de 1960, nós tomamos o compromisso de coordenar os nossos esforços para tornar a vida impossível ao colonialismo português em Angola. A odiosa tragédia já durou bastante, a nossa paciência acabou, o colonialismo português deverá retroceder-se ou negar-se, nos tomamos o compromisso solene diante a história e perante as nossas consciências.

VIVA A NAÇÃO ANGOLANA
VIVA A REPÚBLICA DO CONGO
VIVA A SOLIDARIEDADE INDISCTRUTÍVEL DOS POVOS AFRICANOS
VIVA A UNIDADE AFRICANA.

Comunicado da UPA sobre o 3 de Agosto (Léopoldville)

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