Carta de Amílcar Cabral a «Caros Amigos»

Cota
0006.000.086
Tipologia
Correspondência
Impressão
Manuscrito
Suporte
Papel comum
Remetente
Amílcar Cabral
Destinatário
«Caros amigos»
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
1
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Acesso
Público

d226 Carta de Amílcar Cabral [manuscrita] [Acrescentado à mão por L. Lara: Data do correio 24/9] R: 28/9/59] Caros amigos Cá estou eu de novo e a marcha não pára, não pode parar. Temos de caminhar firmemente até à vitória final. 1. Estive na minha terra durante uns dias. Apesar de todas as opressões, de todas as manhas, a luta continua, cada vez mais conscientemente, cada dia mais reforçada. De tal maneira que eu próprio fico admirado de tanta vontade espontânea, de tanto desejo consciente de fazer alguma coisa de concreto e consequente em relação à terra. Dado que surgiram outros movimentos (organizações clandestinas) é objectivo fundamental do programa traçado, conseguir uma união sólida, a formação de uma só frente para lutar. 2. Afinal, a chacina feita pela polícia e civis portugueses teve este balanço: 24 mortos e 35 feridos, alguns muito graves. Chegaram a matar alguns africanos dentro da água, quando tentavam fugir à polícia e alcançar os barcos que estavam ancorados perto do cais de Pijiguiti (Bissau). Crime do mais hediondo que pagarão um dia, porque o nosso Povo, nós todos, jurámos em silêncio vingar os nossos mártires, os primeiros sacrificados pela libertação da nossa Pátria. Foi uma lição e importa tirar daí as maiores vantagens para a luta. 3. Aqui, contactei com muita gente e fiz bons conhecimentos. Creio que estabeleci as bases para uma eficaz colaboração dentro de pouco tempo. Mando um documento. Se quiserem qualquer coisa para aqui, escrevam para Mr. Henry Labery – B.P. 1661 – Dakar; ou para Mr. Jean Gomes – 615-H Cicap Baobab Grand-Dakar – Senegal. Qualquer endereço que eu tenha indicado antes, fica sem efeito (não me lembro se o fiz). 4. Não pude ir a Conakry, por causa do passaporte que ficaria marcado. Temos lá elementos. Vou escrever e mandar documentos tratando das nossas coisas. 5. Regresso amanhã a casa1. Vamos a ver se depois destas voltas todas não me chateiam. De qualquer modo, espero (tenho a certeza) de que continuarão a luta até o fim, até à vitória incondicional contra os nossos opressores. A camaradagem, do vosso Abel [Acrescentado na margem:] Seria muito bom, se já estivessem em contacto com Accra. Ficou estabelecido que tentariam encontrar-vos aí, onde estais, para novas démarches e regresso a África. Desejo ardentemente o dia em que nos encontraremos aqui. Mais do que nunca estou certo da necessidade e vantagens da nossa presença aqui, entre os nossos irmãos. Abel

Carta de Abel [Amílcar Cabral] a «Caros Amigos».

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