Carta de José Maria Magalhães (Amílcar Cabral) a Lúcio Lara

Carta de Amílcar Cabral [manuscrita – original em francês] Lisboa – 6/6/59 Meu caro amigo Agradeço-lhe muito a sua carta. Infelizmente chegou numa altura muito má porque estou muito absorvido pelo meu trabalho. De qualquer modo tentei encontrar os livros indicados na sua carta e envio-lhe o 1 e talvez o 2, mas estou convencido da impossibilidade de ter o 3º. Tentarei obter os outros quando tiver um pouco mais de tempo. O seu convite reteve a atenção do nosso amigo comum, Dr. José Maria Neves mas, de momento, ele não o pode aceitar por já estar comprometido com uma clínica muito importante em África; mas, se por acaso este negócio não evoluir bem, é bem possível que aceite fazer esse estágio e para tal gostaria de ter mais informações (Duração, condições de trabalho, diplomas a obter, etc.). Durante as suas férias aqui você deixou algumas coisas, sobretudo livros sobre a vida dos Inca e dos Maya, em casa do seu amigo Silva; infelizmente não sei como o alcançar. Será possível tê-los? Gostaria muito de os ler e saber um pouco mais sobre estes maravilhosos povos. As revistas e periódicos portugueses de especialidade falam muitas vezes dos negócios dessa grande casa industrial em que trabalha e da sua vontade de conquistar o mercado comercial em África. Creio ser preciso trabalhar muito, investindo toda a sua inteligência, persistência e saber para o conseguir, porque há outras casas (portuguesas, fran. e inglesas) muito interessadas. Creio também que o primeiro passo deveria ser contactar uma boa casa comercial em África, enviar-lhes os seus produtos e em seguida pedir lá pessoal para ser convenientemente treinado sobre a complexidade das suas máquinas, na sua própria fábrica. Seria muito interessante se desse esta ideia aos seus directores. Pronto, é tudo. Muito obrigado e até breve, meu amigo José Maria Magalhães1